Diante da anestesia geral a que estamos submetidos aposto que grande parte das pessoas sequer se deu ao trabalho de procurar entender o que está acontecendo em Honduras. É lamentável, mas a grande imprensa dá infinitamente maior espaço à farsa da Gripe Norteamericana do que ao Golpe Hondurenho e, este sim, tem grande significado histórico.
O Governo de Zalaya, até recentemente passaria desconhecido de todos nós, dado a escassez de informações que recebemos de nossos irmãos Centroamericanos. Bastou seu governo pretender produzir uma nova constituição e, democraticamente, submeter essa ideia a Plebiscito que o caldo entornou. Ele pretendia submeter à consulta pública a proposta de uma Assembléia Constituinte nas eleições gerais que ocorrerão em novembro. Um Golpe de Estado de Direita, com a participação do Legislativo, do Judiciário e do Exercito, que seu Governo foi derrubado. Impressionante a cara-de-pau dos golpistas alegando que ele estava tentando dar um golpe porque sua proposta de constituição previa a possibilidade de reeleições sucessivas, o que abriria margem para que seu Governo se mantivesse no poder caso eleito pelo voto direto da população. Quer dizer, ser eleito pela população pode ser golpe. Contra isso, dá-se um Golpe pelas armas, para evitar um golpe pelos votos. E olha que o que estava em jogo nem era o conteúdo da nova constituição a ser criada, já que esta não tem sequer uma linha escrita ainda. Era apenas a autorização publica para a instalação de uma Assembléia Constituinte e, nesta sim, eventual proposta de reeleição seria discutida. Quer dizer, foi apenas a desculpa para um Golpe da extrema direita.
Longe de mim ser o profeta do apocalipse, mas aposto que esta situação está excitando o Supremo Presidente GM com a ideia de repetir a mesma história por aqui. Apoio no congresso é possível que ele obtivesse. A grande imprensa com certeza estaria ao seu lado. Uma grande diferença que o contem é que estamos em país continental e que tal fato não passaria em brancas nuvens no cenário internacional. Também, talvez, encontraríamos ânimo para nos organizar e confrontar - mesmo que às armas - um golpe deste nível. Eu certamente estaria neste movimento de resistência. É claro que ele não tentará porque o Golpe mais sutil está em andamento, tem obtido grande sucesso e não encontra a mesma disposição para confrontá-lo.
O mundo todo vem se manifestado a favor do retorno de Zalaya ao poder e pela condenação do Governo golpista que acampou no palácio do governo Hondurenho. Ainda assim, nada de concreto tem acontecido. O presidente da Costa Rica tentou uma negociação entre as partes, promovendo dois encontros para o diálogo, mas não obteve quaisquer avanços. Os golpistas não aceitam qualquer proposta que implique no retorno de Zalaya ao poder. Zalaya não aceita qualquer coisa menos que isso e nem, caso retorne, anistiar os golpistas.
Vários países anunciaram a suspensão das ajudas financeiras a que este país paupérrimo está acostumado a receber, até que Zalaya seja restituído a seu posto. Os professores e outros trabalhadores articulados pelo forte movimento sindical hondurenho fazem manifestação continuamente, fechando rodovias, suspendendo os serviços públicos e saindo às ruas contra o governo golpista. A cúpula da igreja católica junto com a TFP local também organizou movimentos, estes de apoio ao golpe, inclusive enchendo ruas e se confrontando aos manifestantes pró-Zalaya. Hugo Chaves é um dos que tem desferido as críticas mais mordazes aos golpistas, propondo inclusive uma força militar internacional para destituí-los à força e restituir a ordem constitucional com Zalaya à frente. Diante disto a grande imprensa não quer assumir uma posição que tem Chaves como um dos líderes e prefere o silêncio, com discretas notas sobre o caso.
Neste final de semana Zalaya e seus parceiros prometem retornar ao país pacificamente em uma caravana, a partir da fronteira Nicaraguense, acompanhados pela imprensa internacional. O governo golpista promete prendê-lo assim que pise no país. Decretou toque de recolher para impedir que a população encha as ruas à espera de Zalaya e o conduza ao poder literalmente nas mãos do povo.
São pouco mais de sete milhões de habitantes vivendo um terremoto político que estraçalha a pequena estrutura de políticas públicas que eles tem. Lamentavelmente a maioria dos brasileiros está mais preocupada com os próximos passos dos personagens das novelas neste final de semana do que com o povo Hondurenho. Eu, de minha parte, estou extremamente preocupado e atendo. Mesmo sem estar lá sofrendo o golpe, sinto a dor solidária dos irmãos hondurenhos. Que cada passo de Zalaya carregue a força de todos aqueles que entendem ser o povo soberano para decidir seu futuro. O golpe militar é um atentado a nossa dignidade humana na medida em despreza a capacidade de autodeterminação da população em favor do suposto discernimento de uma elite político-econômica e militar.