Recebi como contribuição, as anotações de Fernando Anísio Batista, de uma palestra ocorrida na UFSC. Vale a pena a leitura...
PALESTRANTE: PROF. IGNACY SACHS
DIA: 11.03.2010 (QUINTA-FEIRA)
HORÁRIO: 09 - 12 HS
LOCAL: AUDITÓRIO DA REITORIA
PROMOÇÃO: IELA-UFSC E CALE-ECONOMIA
Falar em crise não é mais nenhuma novidade na atualidade. Mas encontrar respostas para a crise é muito mais desafiador. Portanto, toda crise desperta para uma reação, que pode ser para resistir e reafirmar uma proposta, mesma se for ela que provocou a própria crise, ou então, aproveitar a crise para uma mudança de rumo.
Vejamos quais foram as duas primeiras revoluções. A primeira grande revolução foi intitulada como Revolução Neolítica, ou seja, ocorreu aproximadamente a 12 mil anos atrás quando o homem conseguiu “domesticar” as plantas e os animais. A segunda grande revolução aconteceu entre os séculos XVII e XVIII, onde iniciou o processo de utilização das energias fósseis (petróleo e carvão).
Atualmente temos uma quantidade de lançamento de gases poluentes no ar, o que resulta no aquecimento global. Estamos próximos da exaustão dos recursos naturais de fácil acesso (como é o caso do petróleo). Então a terceira grande revolução trata-se da era pós petróleo. Contudo a resposta para esta crise não deve ser feita de forma simplista, baseada apenas no meio ambiente e no debate da matriz energética. É necessário ampliar o debate e incluir na pauta a desigualdade social.
Estamos vivendo uma catástrofe social e natural. É perigoso falar simplesmente na catástrofe natural. Os dois grandes desafios desta crise são o ambiental e o social, sendo que as soluções devem ser socialmente encludente e ambientalmente sustentáveis.
Quais são os paradigmas que a crise apresenta?
1º) Paradigma Energético: é necessário repensar a fonte de energia, repensar o padrão de consumo.
2º) Eficiência Energética
3º) Substituição Energética: abre um leque de alternativas muito grande, além da bioenergia temos várias gerações de matrizes energéticas que podem ser ampliadas. Como podemos ver a seguir:
- Etanol (primeira geração): esta sendo bem trabalhada, mas é preciso ampliá-la sem colocar em risco a segurança alimentar.
- Etanol celulose (segunda geração): composto com resíduos vegetais, o que acabará com a competição entre a segurança alimentar e o modelo energético.
- Biocombustível (terceira geração): é composto por micro algas marinhas e aquáticas.
- Fotosintese Assistida (quarta geração): tratasse da realização da fotosintese em uma estufa com a inclusão de gases (como o carbono) a qual gerará energia. Este modelo está em fase de estudos para ser implementado no deserto e abastecer energicamente muitos países da Europa.
Estes modelos de matrizes energéticas têm baixa emissão de carbono na atmosfera, isso não significa que não vamos utilizar o carbono.
Outro elemento importante para analisar a crise e buscar respostas a ela é perceber quais são as margens de liberdade que temos para progredir, para se desenvolver. Neste sentido podemos destacar algumas, conforme segue:
- Repensar o modelo energético;
- Promover a rede sócio assistencial ampliada a partir do conceito de direito universal;
- Expansão do perímetro da economia solidária dentro do mercado capitalista (contra a apropriação individual do lucro);
- maior seriedade nas relações internacionais, sendo que o modelo de globalização que temos no momento é voltado para o favorecimento dos países ricos.
- Maior aproveitamento dos recursos naturais, buscando um desenvolvimento a partir de dentro, com as potencialidades e possibilidades locais.
Voltar à arte de planejar
O modelo de desenvolvimento social, econômico e ambiental que temos é refém da falta de planejamento. O planejamento aponta onde queremos chegar. Hoje não temos esta resposta.
O planejamento é uma vitima da contra reforma neoliberal que tem ocorrido a partir dos últimos 30 anos. A agenda 21 proposta no Rio de Janeiro em 1992 ficou na contra mão do processo neoliberal vivido nos anos 90. Desta forma, não foi possível planejar ações que favorece sua aplicação.
A necessidade atual é de construir um planejamento que inclua temas e paradgmas que a crise apresenta e não consegue dar respostas, tais como: inclusão social, modelo energético, relações de trabalho horizontalizadas, etc.
Este planejamento deve ser democrático e que envolva as seguintes categorias representativas:
- Estado democrático de direitos;
- Trabalhadores;
- Empresários;
- Sociedade Civil Organizada;
Deve ser dialógico, reflexivo e continuo. Por isso, deve ser diferente do modelo soviético. Na sua metodologia pode promover novos ciclos de planejamento abrangendo diversos níveis, com diagnósticos participativos que respondam as seguintes perguntas: o que está doendo? Quais os problemas devem ser atendidos? Avaliação dos potenciais latentes da economia. Como dinamizar a economia local?
O planejamento pode ser visto como uma estratégia em longo prazo, envolvendo a nação, biomas territórios, estados e municípios. Poderá ter o seguinte tripé: pegada ecológica, biodiversidade e trabalho descente.
Nos anos de 2012 acontecerá no Rio de Janeiro a II Cúpula da Terra e em 2022 será o bicentenrio de libertação dos países latinos americanos. Podem ser dois grandes momentos para voltar a planejar.
Anotações feitas por Fernando Anísio Batista
e-mail: fernandoanisio@hotmail.com