quinta-feira, 25 de setembro de 2008

A Crise Financeira Seria o Prelúdio do Esgotamento da Hegemonia Estadunidense?

Acabo de ler uma análise da crise financeira estadunidense que me deixou entusiasmado. Clique aqui para ler. Trata-se de uma entrevista com a brilhante Maria da Conceição Tavares, uma economista luso-brasileira, cuja fama é inferior à sua estatura intelectual. Ela considera que o momento atual pode ser o fim da hegemonia não só dos Estado Unidos da América, como também do Neoliberalismo. Que fique claro, não se trata da superação do capitalismo, mas de sua re-acomodação. Uma nova ordem se anunciaria com o Estado mais presente na economia na forma de monitoramento do sistema financeiro para impedir que novas bolhas estourem deixando os prejuízos nas mãos dos contribuintes. Não podemos chamar isso de uma visão otimista mas de uma mudança, sem dúvida. Como toda crise, esta é uma grande oportunidade. Para quê? Ainda é cedo para afirmar. Pode ser que o novo equilíbrio seja ainda mais perverso. Pode ser também que consigamos instituir mecanismos cidadãos de controle do mercado. Pode ser ainda que a fluidez da economia impeça a estabilização de quaisquer instituições e um novo formato de controle se estabeleça pela aceleração dos ciclos. O campo dos possíveis é pantanoso e as previsões arriscadas. 
O fato a se comemorar é apenas a ruptura de um suposto equilíbrio que sacraliza o mercado e inferioriza os Estados Nações. Ora, se quando o sistema entra em colapso são os cidadãos que arcam com o ônus, é de se supor que mesmo os governantes capitalistas mais ortodoxos exijam medidas de prevenção. Por mais que saibamos que a bolha tem nome e sobrenome, que muitas fortunas foram feitas tendo por base a especulação, pelas atuais regras do jogo estes "felizardos" não arcarão com as conseqüências de seus atos. Já escapuliram da ciranda a tempo, até porque detém análises muito mais apuradas do que as autoridades de Estado. Há procedimentos criminosos no meio disso, sem dúvida, mas a especulação em si é permitida e até incentivada e está na raíz do problema. Mesmo que todos os desvios fossem detectados e corrigidos, isso aliviaria mas não alteraria o estouro. A emissão de títulos não lastreados pode ser considerada gestão temerária ou até fraude, mas a especulação que fez com que estes títulos fossem infinitas vezes sobrevalorizados faz parte do jogo, que agora se demonstrou insustentável. 
Onde isso tudo vai dar? Quem viver verá... Nós, reles mortais descapitalizados e sem poder de interferência nas macrodecisões econômicas apenas podemos assistir os desdobramentos. Menos mal que o Brasil hoje tem âncoras reais que amortecem os impactos da recessão que se inicia. Somos detentores de ativos econômicos que nos permitem manter uma certa normalidade. As reservas cambiais estão em bom nível, temos uma variedade de parceiros comerciais interessante, recursos naturais incomparáveis, a produção agrícola vem batendo recordes consecutivos a anos, não vivemos grandes conflitos com países estrangeiros, acabamos de receber as boas novas do petróleo no pré-sal... O que nos fragiliza é uma institucionalidade submissa aos interesses dos grandes grupos financeiros. Nossos governantes ainda não cumprem a aliança com a cidadania, que povoa seus discursos. Entre aumentar a base consumidora ou a margem de lucros das instiuições bancárias, a segunda tem sido a opção trilhada por muitos anos, tanto é que os bancos locais ou os que por aqui aportam superam em muito a lucratividade obtida em outros lugares. Nem mencionemos a corrupção, que não seria caso de discussão mas de polícia, se esta fosse verdadeiramente colocada para combater os crimes do colarinho branco. Mesmo tratando apenas do posicionamento político, o compromisso com o crescimento econômico ainda é vinculado a manutenção da taxa de lucros e não à conquista de novos patamares de qualidade de vida e reversão da concentração de renda. 
Por hora, vamos levando a vida com um "olho no gato e outro no peixe"... 

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

¿ Porque no te callas Gilmar Mendes ?



O Supremo Presidente Gilmar Mendes - como diz PHA - não perde uma oportunidade de manter-se no centro das atenções soltando suas pérolas. Hoje saiu um laudo pericial das tais maletas da ABIN às quais é atribuída a autoria de supostos grampos telefônicos lisonjeiros do próprio e do senado Demostenes Torres. Trata-se de mais um episódio da grande patifaria destinada a livrar a cara de Daniel Dantas. Além da vergonhosa articulação neste sentido, que por si só justificam a maior indignação, a verborragia de Gilmar Mendes desgasta irreversivelmente a imagem do Poder Judiciário. É fato que a credibilidade deste já não era muito grande, mas esperava-se um pouco de compostura de seus ocupantes. Não que os ministros tenham que se comportar como Sábios da Montanha, que só se manifestariam através de metáforas, mas não é razoável que a cada detalhe de notícia o PIG corra ao Supremo Presidente e este se preste a proferir suas frases feitas para reforçar o Golpe do Estado de Direita, do qual lidera. Alguém deveria submetê-lo ao constrangimento de um cala-boca, ao estilo do Rei Juan Carlo proferido contra Hugo Chaves. 
O ideal é que o "¿Porque no te callas?" viesse de um outro ministro do Supremo, o que resgataria o pouco que resta de credibilidade daquela instituição. Se de lá não sai nada em função do corporativismo ou de uma submissão hierárquica tacanha, que outros ocupem este espaço. Seria muito bom que Lula se insurgisse contra o patético papel de quem foi "chamado às falas" e proferisse o bordão mas tudo indica que ele tem medo de Gilmar Mendes. É um pena!
Se no mundo real está difícil, quem sabe na comédia. Se os comediantes assumissem essa crítica e colocassem sua criatividade nessa tarefa, estariam prestando um grande serviço à nação. Tem que ser algo forte o suficiente para constragê-lo, por mais difícil que isso possa parecer. 
Nós, os simples mortais, também precisamos aumentar nossa grita de indignação. Há pessoas que estão anestesiadas pela novela em que essa história foi convertida e já nem dão ouvidos às novas barbaridades que brotam da latrina de Gilmar Mendes. Me tem enojado cada vez mais aquela cara de buldogue cansado que ele faz diante das câmeras, acompanhada de uma voz taciturna, tentando dar alguma seriedade à nova asneira que vai dizer. 
¿ PORQUE NO TE CALLAS GILMAR MENDES?

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Mais Uma Vez o Supremo Presidente Fazendo das Suas

Ainda estou chocado com o ocorrido nesta segunda-feira, envolvendo o Supremo Presidente Gilmar Mendes e o Presidente Lula. Mesmo que isso tenha um certo tom de ingenuidade, o que me surpreendeu não e o ato em si que faz parte de um processo orquestrado para o desgaste do Governo Federal e consolidação do que Paulo Henrique Amorim chama de Golpe do Estado de Direita, onde o ministro figura como o Mussolini. Meu espanto está em que isto tenha sido possível.
Suponhamos que o próprio Senador Demostenes, que aparece em posição elogiosa junto ao ministro no diálogo telefônico divulgado pela Veja, seja o autor da gravação. O sistema de telefonia do senado permite isso perfeitamente, como em breve divulgará toda a imprensa. Depois disso ele mesmo, para "repercutir" sua influência junto ao supremo fizesse vazar a gravação para a revista. Esta hipótese pode muito bem ter ocorrido já que a revista manterá até o fim o sigilo de sua fonte, que é uma garantia do jornalismo. Isso bastou para Lula engolir a pecha de menino traquino a quem o Supremo Presidente "chama às falas". Que Gilmar Mendes tente isso é razoável, mas que Lula e todas as raposas políticas que o cercam aceitem isso, é impressionante. Novamente citando PHA, "de que Lula tem medo?" Deve ser algo muito grave para que ele se deixe envergar a tal ponto. Há questões muito mais graves na conjuntura e o presidente se deixa manipular para enaltecer Gilmar Mendes - com sua cara de tristeza - e fornece a pauta para todos os meios de comunicação sedentos por escandalos que desgastem o gorveno. Mesmo que o grampo tenha partido da ABIN, o que acho pouco provável, o fato político não foi a ordem para que se investigue o caso ou o afastamento do Paulo Lacerda, que merece a pressunção de inocência. A reunião onde Lula levou, segundo a versão presumida e propagada, uma carraspana do Supremo Presidente é que é a verdadeira crise institucional. Escracha a fragilizade absoluta da instituição presidencial que deveria usar o trocadilho e mandar "às favas quem lhe chamasse às falas". Mas Lula é um fraco para isso, infelizmente!