segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

MOMENTO DE ACUMULAR FORÇAS


O mundo todo tem vivido uma onda conservadora e no Brasil estamos vivendo este movimento com intensidade amplificada por um processo eleitoral agressivo e polarizado. No campo dos direitos sociais os retrocessos são igualmente expressivos e merecem uma reflexão detida. Há que identificar as alternativas a seguir para aqueles que mantém o compromisso com os avanços civilizatórios e a garantia dos direitos.
A violência crescente tem o impulsionamento vertiginoso com a facilitação do porte de armas e do incentivo da brutalidade policial, ao ponto de termos inúmeras execuções espetaculosas de negros e pobres. O pacote “anti-crime”, anunciado pelo Governo Federal e defendido por grande parte da imprensa, apenas dá uma roupagem de marketing ao discurso de ódio das correntes de whatsapp, sem qualquer fundamento sério. Mesmo sendo um dos países que mais prende no mundo, pretendem prender ainda mais os pobres e negros, supondo que isto impactaria no grave quadro de vivemos. Neste mesmo contexto, a resistência à criminalização da homo e transfobia, que pareceria óbvia há poucos anos e por se vai em direção ao fundo de um poço sem fim.
O controle social sobre as políticas públicas está longe de ser uma pauta exclusiva de esquerda, mas recebe o enfrentamento contundente das forças conservadoras nacionais, agregando a centralização e o autoritarismo da gestão pública ao seu projeto político. A suspensão das atividades do Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência – CONADE e o provável cancelamento da Conferência Nacional da Assistência Social são os dois elementos mais evidentes nesta direção. Não é de hoje a fragilização dos espaços e mecanismos de controle social, haja vista a distorção e a anulação da Política Nacional de Participação Social (PNPS) prevista no Decreto 8.243/2014, derrubado pelo Congresso Nacional. A diferença que ocorre agora é o resgate fantasioso de que seriam sementes comunistas e que deveriam ser liquidadas desde a raiz.
Na educação a ideologia da neutralidade inserida no projeto de “escola sem partido”, somada à revitalização da pedagogia militar em escolas de periferia, os cargos de gestão educacional nacionais ocupado por néscios impetuosos, as ameaças à educação sexual, a proposta de auto-regulamentação do ensino superior, entre outros, dão uma amostra das dificuldades que se avizinham.
Na saúde o fomento à hospitalização psiquiátrica em detrimento da abordagem ambulatorial, agravada com o resgate da autorização da prática de tortura através choques elétricos, a expulsão ideológica dos médicos cubanos desguarnecendo às periferias e as zonas rurais mais inacessíveis, marcaram o recuo político do maior sistema público de saúde do mundo.
Na assistência social os cortes no bolsa família, maquiados por critérios de exclusão automática cada vez mais rigorosos, os atrasos contumazes do repasse de recursos aos municípios e o rebaixamento do status da Secretaria Nacional encarregada pelo SUAS, se alinham na fragilização das conquistas civilizatórias dos últimos anos.
A ideia de que seria muito cedo para avaliar desconsidera que a crítica é dirigida à direção e não à quantidade de ações realizadas e, neste sentido, não faz sentido esperar que sejam integralmente implementadas. Quando há uma pessoa se afogando, não dá para argumentar que é cedo demais para avaliar se ela realmente vai precisar de ajuda.
Diante destes e outros aspectos igualmente assustadores nos cabe buscar a maior unidade possível entre organizações e pessoas com concepções próximas e o estabelecimento de estratégias de ação para minimizar os danos deste momento perverso. Acredito que a melhor saída é a densificação das alternativas ao quadro atual. Isto significa que, sem deixar de fazer as críticas a cada medida que implique ameaça ou perda de direitos sociais, precisamos nos concentrar na formulação da reconstrução e na implementação de novas conquistas ainda não consolidadas. É um tempo de reflexão e muito estudo para a diferença não seja apenas na ferocidade do enfrentamento, mas na qualidade da via por nós apresentada.
Temos observando como uma característica constante das propostas conservadoras, seu simplismo e ineficácia, dado que se baseia nas frases feitas, memes e preconceitos. Há coerência entre os seis minutos de fala do atual chefe de Estado em Davos, as frases de efeito da suposta ministra dos Direitos Humanos e os ataques ao “globalismo” pelo Chanceler. Todos estes e muitos outros transbordam boçalidade e histrionismo. A acusação direta a estas situações pode acuar aqueles que votaram nesta turma. O raciocínio elaborado, a linguagem ampla e mesmo a prática argumentativa não estão ao alcance da maioria de nossa população , infelizmente. Ao apontarmos a ignorância e incapacidade dos detentores do poder, estamos também expondo indiretamente todos aqueles que vivem nesse nível de superficialidade e que não conseguirão acompanhar o discurso acusatório.
É hora de aproveitarmos cada oportunidade para compreender mais à fundo os temas significativos de nosso contexto social. O feminicídio, o racismo em suas mais variadas expressões (agora incluindo a homo e transfobia, segundo o STF), os transtornos psicológicos, o autoritarismo escolar, são apenas alguns dos temas que estão clamando investimento intelectual para sua elucidação e enfrentamento. Mais do nunca o investimento na Formação, na avaliação e no planejamento das ações de caráter social farão a diferença entre aqueles que ficaram reclamando do contexto ou se preparando para o novo ciclo que certamente virá. Busquemos juntos novas e melhores Sociais Soluções!