sexta-feira, 14 de agosto de 2009

SUS: Ruim mas indispensável

É comum ver críticas ao SUS. Nem é preciso repetí-las. O atendimento é trágico, o alcance é baixo, a corrupção é alta e etc. Apesar de tudo isto, temos um sistema público e isto não é pouco. Que não se confunda estas afirmações como defesa deste governo, dado que esta é uma conquista e uma construção anterior e que poderia ter avançado muito mais se este governo fosse coerente com o discurso de defesa dos interesses públicos.
Algumas conquistas que passam como triviais para a maioria da população e que assim são tratadas pela imprensa, não existem pelo mundo afora. O acesso a medicamentos, mesmo havendo casos em que isso não ocorre, na maioria dos casos está acontecendo mesmo quando o custo destes é assustador. Muitos pacientes esperam demais por internações, tratamentos e exames - o que não deveria ocorrer, mas isso nos causa indignação por que temos a espectativa legal e legítima de que todos tem esse direito. É justamente este aspecto que me chamou a atenção.
Vi uma matéria na TV SUR (TV Venezuelana com transmissão ao vivo pela intenet, clique aqui) sobre um protesto nos Estados Unidos contra o governo Obama, que pretende esabelecer um seguro de saúde público para quem não possa contratar um no "livre mercado". Uma liderança da manifestação ouvida pela reportagem dizia que "O seguro saúde tem que ser uma possibilidade e não um direito!". Soa estranho para nós brasileiros alguém se manifestando nas ruas contra um direito, ainda mais o direito à saúde mas é assim na maior parte do mundo.
O panfletário mas indispensável documentário de Michael Moore, denominado "Sicko" já abordou o assunto com toda a riqueza e carga emotiva. Quem ainda não assistiu o faça urgentemente.
O SUS precisa de toda e da mais aguda crítica e de nosso esforço para seu aprimoramento mas é lamentável ver a grande imprensa e mesmo populares com afirmações rasteiras e inconsequentes de que ele "não funciona" ou de que é "só teoria". O que estes consideram o óbvio é uma preciosidade e nos custa muitíssimo enquanto sociedade.
Vejamos os hospitais superlotados e com pessoas recebendo péssimo atendimento, que sequer isso teriam em outros países. É claro que isso tem que ser superado. Tem que atender a todos e com qualidade! Disto não se pode abrir mão por estas terras. Há condições para que isso ocorra. Isto contraria muitos interesses, desde os próprios seguros privados, que querem o SUS cada vez mais sucateado para que tenham espaço para espandir-se, aos profissionais que são mal remunerados pelo SUS e que por isso não o valorizam e reproduzem a máxima de "atendimento pobre para pobres".
Há muitos atendimentos sendo realizados a contento e isso precisa ser destacado e replicado por todo o sistema. As equipes de saúde da família tem recebido aprovação popular em quase todos os lugares em que estão atuando. O atendimento aos pacientes oncológicos, aos portadores de HIV e diversos outros tem sido referidos pelos próprios, muitas vezes, de forma comovente. Sem dúvida que é pouco e não podemos nos contentar com pouco mas é grande coisa e isso precisa ser reconhecido.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

O Golpe em Honduras: E nós com isso?

Diante da anestesia geral a que estamos submetidos aposto que grande parte das pessoas sequer se deu ao trabalho de procurar entender o que está acontecendo em Honduras. É lamentável, mas a grande imprensa dá infinitamente maior espaço à farsa da Gripe Norteamericana do que ao Golpe Hondurenho e, este sim, tem grande significado histórico.

O Governo de Zalaya, até recentemente passaria desconhecido de todos nós, dado a escassez de informações que recebemos de nossos irmãos Centroamericanos. Bastou seu governo pretender produzir uma nova constituição e, democraticamente, submeter essa ideia a Plebiscito que o caldo entornou. Ele pretendia submeter à consulta pública a proposta de uma Assembléia Constituinte nas eleições gerais que ocorrerão em novembro. Um Golpe de Estado de Direita, com a participação do Legislativo, do Judiciário e do Exercito, que seu Governo foi derrubado. Impressionante a cara-de-pau dos golpistas alegando que ele estava tentando dar um golpe porque sua proposta de constituição previa a possibilidade de reeleições sucessivas, o que abriria margem para que seu Governo se mantivesse no poder caso eleito pelo voto direto da população. Quer dizer, ser eleito pela população pode ser golpe. Contra isso, dá-se um Golpe pelas armas, para evitar um golpe pelos votos. E olha que o que estava em jogo nem era o conteúdo da nova constituição a ser criada, já que esta não tem sequer uma linha escrita ainda. Era apenas a autorização publica para a instalação de uma Assembléia Constituinte e, nesta sim, eventual proposta de reeleição seria discutida. Quer dizer, foi apenas a desculpa para um Golpe da extrema direita.

Longe de mim ser o profeta do apocalipse, mas aposto que esta situação está excitando o Supremo Presidente GM com a ideia de repetir a mesma história por aqui. Apoio no congresso é possível que ele obtivesse. A grande imprensa com certeza estaria ao seu lado. Uma grande diferença que o contem é que estamos em país continental e que tal fato não passaria em brancas nuvens no cenário internacional. Também, talvez, encontraríamos ânimo para nos organizar e confrontar - mesmo que às armas - um golpe deste nível. Eu certamente estaria neste movimento de resistência. É claro que ele não tentará porque o Golpe mais sutil está em andamento, tem obtido grande sucesso e não encontra a mesma disposição para confrontá-lo.

O mundo todo vem se manifestado a favor do retorno de Zalaya ao poder e pela condenação do Governo golpista que acampou no palácio do governo Hondurenho. Ainda assim, nada de concreto tem acontecido. O presidente da Costa Rica tentou uma negociação entre as partes, promovendo dois encontros para o diálogo, mas não obteve quaisquer avanços. Os golpistas não aceitam qualquer proposta que implique no retorno de Zalaya ao poder. Zalaya não aceita qualquer coisa menos que isso e nem, caso retorne, anistiar os golpistas.

Vários países anunciaram a suspensão das ajudas financeiras a que este país paupérrimo está acostumado a receber, até que Zalaya seja restituído a seu posto. Os professores e outros trabalhadores articulados pelo forte movimento sindical hondurenho fazem manifestação continuamente, fechando rodovias, suspendendo os serviços públicos e saindo às ruas contra o governo golpista. A cúpula da igreja católica junto com a TFP local também organizou movimentos, estes de apoio ao golpe, inclusive enchendo ruas e se confrontando aos manifestantes pró-Zalaya. Hugo Chaves é um dos que tem desferido as críticas mais mordazes aos golpistas, propondo inclusive uma força militar internacional para destituí-los à força e restituir a ordem constitucional com Zalaya à frente. Diante disto a grande imprensa não quer assumir uma posição que tem Chaves como um dos líderes e prefere o silêncio, com discretas notas sobre o caso.

Neste final de semana Zalaya e seus parceiros prometem retornar ao país pacificamente em uma caravana, a partir da fronteira Nicaraguense, acompanhados pela imprensa internacional. O governo golpista promete prendê-lo assim que pise no país. Decretou toque de recolher para impedir que a população encha as ruas à espera de Zalaya e o conduza ao poder literalmente nas mãos do povo.

São pouco mais de sete milhões de habitantes vivendo um terremoto político que estraçalha a pequena estrutura de políticas públicas que eles tem. Lamentavelmente a maioria dos brasileiros está mais preocupada com os próximos passos dos personagens das novelas neste final de semana do que com o povo Hondurenho. Eu, de minha parte, estou extremamente preocupado e atendo. Mesmo sem estar lá sofrendo o golpe, sinto a dor solidária dos irmãos hondurenhos. Que cada passo de Zalaya carregue a força de todos aqueles que entendem ser o povo soberano para decidir seu futuro. O golpe militar é um atentado a nossa dignidade humana na medida em despreza a capacidade de autodeterminação da população em favor do suposto discernimento de uma elite político-econômica e militar.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

O Pânico tosco da Gripe Norteamericana

Incrível como a grande imprensa insiste com a pregação do Pânico em relação à gripe norteamericana. Para quem estranhou o nome da gripe, em primeiro lugar vamos cuidar de inocentar os porquinhos, a não ser que você ainda acredite no que disse o Governador José Serra (Clique aqui para ver). Em segundo lugar, havia uma tradição de nomear as grandes gripes em relação ao local onde surgiram, até porque a questão geográfica e chave para seu controle. Assim tivemos a gripe Espanhola, a Asiática. Neste caso os mexicanos e os estadunidenses pretenderam se ocultar e depositar a responsabilidade nos suinos, coitados.
Voltemos ao que interessa. A grande imprensa insiste em pregar o pânico, correndo atraz de cada detalhe das 20 lamentáveis mortes ocorridas até o momento. Se possível grava um close da lágrima caindo do parente da vítima, com uma música doce ao fundo e um oloquente silêncio do apresentador do telejornal, na sequencia. Ainda ontem tivemos a história de toda a equipe médica que conseguiu salvar um bebê cuja mãe padeceu pelas consequencias do H1N1.
Todas as pessoas que tenho encontrado consideram isso tudo um exagero, mas os postos de saúde estão abarrotados de pessoas de máscaras esperando infindáveis horas por uma consulta que nao lhes dirá nada, nem tinha nada a dizer. Ainda ontem me surpreendi com a informação de que Brasil morrem anualmente 77 mil pessoas por consequencias da gripe comum. Isso dá mais de 200 pessoas por dia! Nunca imaginei que seriam tantos. Antes que isso gere outro pânico, vale lembrar que mesmo que muitas dessas sejam evitáveis, outras tantas não o são e contribuem para nosso equilíbrio demográfico. Mas o fato alardeado é que ontem morreram 5 em função da nova gripe e isso foi e será repetido à exaustão.
Estamos diante de mais uma estratégia articulada para ocupar o centro das preocupações da população e, de quebra, insinuar que está havendo omissão do governo federal no controle da entrada das pessoas infectadas no país. Só falta algum abobado gritar "Fechem as fronteiras ou teremos uma catastrofe! Nossas crianças pegarão gripe ao sairem para as aulas, os trabalhadores serão contaminados nos coletivos, os cultos religosos terão que ser proibidos." Parece que estamos na beira do caos e temos uma situação da mais completa trivialidade na realidade
Foi curioso notar que a própria grande imprensa agora teve que iniciar um movimento de recuo, tentando neutralizar o alarme acionado por eles mesmos quando identificaram que quse todos os casos ocorreram nos estados de São Paulo e Rio Grande do Sul. Justamente nestes dois!! Antes que alguem acuse estes governadores de negligência ou fragilidade do atendimento da saúde, foram apresentados, pela primeira vez, alguns elementos comparativos. Na Argentina já morreram mais de 2 mil. No Chile mais de mil... E olha que não há comparação no tamanho da população e localização geográfica dos mesmos.
Enfim, paginas de jornais precisam ser escritas com algo. Minutos de telejornais precisam ser cobertos diariamente com informações que prendam os espectadores enquanto esperam a novela. Apavorá-los é uma maneira eficiente de mantê-los cativos. É lamentável que ainda tenhamos tanta gente que se deixa levar por esses movimentos sórdidos!

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Olha só que pérola, descoberta pelo Blog do Cesar Valente, o DE OLHO NA CAPITAL: "Insesatez", uma belíssima música de Tom Jobim na Interpretação irretocável de Julie Philippe e Zago.

domingo, 19 de julho de 2009

A volta dos que não foram...

Bem, é hora de retomar o Blog. Há muitas coisas acontecendo que precisam ser partilhadas. Quando iniciei o blog afirmei que este seria um espaço para expor um ponto de vista e receber o retorno dos eventuais leitores. No primeiro momento reclamei da ausência destes mas acredito que agora tenho um pouco mais de maturidade para perceber que esse apelo, além de inócuo, revela mais da vaidade de ouvir ecos da própria voz do que da ânsia pelo diálogo. Este último há e continua existindo. Não na forma de comentários escritos no blog mas verbalmente em várias oportunidades e pela própria constância das visitas ao blog, indicando que os textos de alguma forma obtém interesse.
Pois então, já pacificado com este aspecto, resta a necessidade de formação do hábito da escrita. Fazer dele um exercício mais constante, na medida em que me gratifica instantaneamente, isto é, para mim escrever é uma tarefa prazerosa, como para alguns a leitura. Esta última também dá prazer mas considero que a possibilidade de compartilhar ideias, informações e sentimentos através do texto, na forma ativa (escrever) é um privilégio e uma ferramenta para a construção de de uma nova sociedade. Isso pode parecer muito pretensioso para alguns, mas entendo que diante da escassês de reflexão neste momento de hegemonia do consumismo, da ignorância e do egocentrismo, qualquer movimento em contrário, deve ser considerado revolucionário.
Não vou assumir o compromisso com uma regularidade específica, porque certamente o descumpriria, mas afirmo minha intenção de renovar este espaço com a frequencia que me seja possível.
Continuo bastante interessado nas opiniões e retornos dos leitores mas, sei que muitos preferem o fazer verbalmente ou mesmo não tem o hábito ou habilidade para a escrita. Assim, convido-os a comentarem, de qualquer forma que seja, os conteúdos aqui abordados. Isto pode ser interessante para ambos. Para mim, como retorno pela dedicação ao blog, e ao comentador, que poderá ter suas ideias expressas na continuidade do debate, ou ainda pelo simples fato de poder estabelecer um diálogo, que acredito ser mutuamente compensador.

sábado, 10 de janeiro de 2009

Shministim

Esta palavra em hebraico designa aqueles que manifestam objeção de consciência. No Brasil isso não é comum, mas em diversos países do mundo uma pessoa pode se recusar a servir às forças militares alegando objeção de consciência, isto é, por questões de princípios a pessoa se recusa a participar. Em muitos lugares isso é respeitado e a pessoa dispensada. Em outros, como é o caso de Israel, isso é crime passível de prisão. Veja um video de jovens shministim explicando sua situação. Eles estão falando em inglês e há legenda em português. 

Não se trata de algo que possa ser solucionado com posições pessoais, apesar do mérito da posição dos Shministim. Merecem todo o respeito e apontam uma luz no fim do túnel, afinal nem todo o povo Irsaelense pode ser julgado pelas atitudes de seu governo.
Não podemos desconsiderar as raízes históricas do conflito e suas ligações geopolíticas. Israel só toma as atitudes porque sabe que conta com a cumplicidade internacional, principalmente dos Estados Unidos da América. Apesar dos meios diplomáticos divulgarem manifestações de contrariedade, nunca tomam qualquer atitude concreta que faça cessar os assassinatos na faixa de Gaza. Fosse o Governo de Chaves atacar um vizinho como está fazendo Israel, por exemplo, para ver que no mesmo dia seria silenciado à força. 
No caso do massacre dos palestinos pelos israelenses, há diversas questões a serem consideradas. Desde a existência do território de Israel, artificialmente criado para produzir um equilíbrio político da região e garantir a interferência inglesa e estadunidense, passando pelas delicadas pendências religosas, encontramos muitos possíveis olhares.
A nós que estamos tão distantes e dispomos de tão pouca bagagem sobre o assunto - quem de nós aprendeu sobre isso na escola? - resta manifestar a solidariedade ao povo palestino, que está sendo covardemente atacado.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

É tempo de Gentileza...

Em clima de verão, vejam esse vídeo da música que Marisa Monte fez para o Profeta Gentileza. Aliás, para quem quiser saber mais sobre ele, clique aqui.
Neste vídeo aparece o próprio contando sua história e fazendo sua pregação. Como nos faz falta Gentileza!