terça-feira, 25 de novembro de 2008

Chuva sobre Santa Catarina!

Preciso voltar ao lugar comum e mencionar o sentimento de solidariedade que acorre a população brasileira nestas horas. O estado de Santa Catarina sofreu nestes dias uma catástrofe natural de proporções inusitadas. Até hoje (terça, 22hs) já se tem 85 mortos e os desabrigados, aos milhares nem podem ser estimados, já que a minoria está em abrigos públicos e consegue registrar seu drama. Cidades isoladas, falta de víveres, interrupção da rede de gás e de energia elétrica são algumas das agruras pelas quais estão passando a parcela mais vulnerável da população. Há áreas "nobres" também afetadas, mas estes têm como arcar com os altos custos de sua proteção. Alguns vão para hotéis na sua ou em outra cidade e têm condições de refazer suas vidas em pouco tempo depois do ocorrido. Isto não significa que a tragédia lhes poupe, mas seu fardo é muito mais leve. Mas esta é outra questão.

O que sempre me toca nestas circunstâncias não é tanto o drama das vítimas das enchentes, ou de outras catástrofes equivalentes, quanto as expressões da solidariedade daqueles que os socorrem. Não dos que apenas enviam donativos, se bem que isso seja muito valioso, mas sim daqueles que cumprem o papel insubstituível do trabalho no resgate e abrigamento das vítimas. Tanto os que o fazem profissionalmente, quanto os se oferecem gratuitamente para este serviço. 

O arrivismo, tão comum nestes tempos, abre alas e ressurgem as pessoas que se deixam mover pela fragilidade da vida humana. Não se escondem atrás de justificativas políticas ou religiosas e compreendem a urgência da intervenção organizada, da cooperação e da generosidade humana. Sempre há os que o fazem na perspectiva mesquinha do herói. Uma espécie de vaidade que supera qualquer oferta de apoio. O herói sempre busca o reconhecimento, honrarias ou, o que é pior, empoderamento para fins religiosos, partidários ou quaisquer outros. 

A solidariedade não admite medição, não é negócio. Ela apenas e tão somente admite no outro o ser humano que também sou. Sofre nele e empenha suas forças contra o inimigo comum. A solidariedade não faz pelo "outro", ela faz por nós! E isso é muito mais...

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Me deu saudades do "Ardiloso"

Minha avó era uma pessoa fantástica. Sem dúvida está entre as pessoas mais admiráveis que já conheci. A mãe velha, como a chamávamos, foi uma matriarca doce e forte, que sempre tinha uma frase de efeito pronta para proferir. Os ditados, o conselhos, os discursos eloqüentes eram uma marca de todos os seus diálogos. Criou 15 filhos com toda a lágrima e suor que pôde suportar. 

Não foram tempos fáceis, isto tenho certeza. Apesar de ter não testemunhado a etapa mais dura de sua vida, os depoimentos da época dão conta de uma vida sofrida, que só uma religiosidade fervorosa como a dela, para acalantar. 

Dentre os vários momentos inesquecíveis do convívio com ela, me recordei agora do Ardiloso. Por incrível que pareça esse era o nome de um velho cachorro preto da casa da mãe velha, quando ela ainda morava em São Joaquim. Não tenho idéia de onde tiraram um nome tão pomposo para o animal. Uma família de poucos estudos e linguagem limitada, mas que sacou uma palavra tão pouco usual para designar o companheiro das lidas campeiras. O Ardiloso ajudava a buscar as vacas para a ordenha, brincava com as crianças - que sempre eram muitas, e bem cumpria seu papel de cachorro campeiro, até o final de seus dias. Era um cachorro velho, nem sempre tinha energia para acompanhar o ritmo da criançada.

Ao sentir saudades do Ardiloso, mais que o cão, acende em mim a imagem da criança que fui - e que fomos todos nós, e do aconchego que sentíamos na casa da mãe velha - que falta ela nos faz...

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

A Credibilidade da Polícia Federal Subiu no Telhado

A decepção é um sentimento cruel! Ela escracha o quanto tínhamos uma expectativa superior à realidade. É o que acontece nestes dias com a Polícia Federal, infelizmente. Ontem ela realizou uma operação de busca e apreensão nas residências dos policiais envolvidos com  a Operação Satiagraha supostamente procurando provas de vazamento de informações. O Delegado Protógenes foi um dos alvos da chamada operação G, alusão clara ao Supremo Presidente Gilmar Mendes, a quem a PF assumiu assim estar a serviço. Um Procurador da Justiça Federal manifestou-se contra a busca e apreensão, mas isso não foi suficiente. Com a autorização de um juiz prá lá de suspeito, a devassa foi realizada. 

Fazer uma busca e apreensão não é condenar alguém e, por si, não deve ter tomada como punição. Acontece que este é um caso especial. Todos sabem da celeuma que existe em torno da operação que resultou na prisão e soltura, e prisão e soltura de Daniel Dantas. Hoje está acontecendo o julgamento do famoso Habeas Corpus do Super G, o inimigo implacável dos 3P. 

Ao desencadear esta operação nas vésperas da decisão do Supremo, a PF deu um eloqüente recado aos ministros, a toda a imprensa e a quem esteja atento aos desdobramentos deste episódio. É uma tentativa clara de influenciar na decisão dos ministros ao enfatizar a possibilidade de ter ocorrido vazamentos ilegais, o que reforça os argumentos da defesa de Dantas, de que havia uma perseguição política e não uma investigação policial.

Sabe com quem está falando? Este deveria ser o nome da operação. Se bem que Operação G foi um bom nome porque desnuda de vez quem está mandando, se é que restavam dúvidas a alguém. 

É lamentável! A Polícia Federal vinha dando mostras de ser uma instituição que realmente punha os interesses dos contribuintes acima das articulações de bastidores, ao menos na maioria das situações. Agora, o que havia acumulado de credibilidade nestes últimos anos se foi... Não resistiu ao poderio econômico da quadrilha de Dantas e à vaidade desmedida do Super G. 

Ainda tenho a esperança de outro final para essa história, onde prevaleça o cumprimento das leis e os devedores arquem com as conseqüências de seus atos. Sei que há uma boa dose de ingenuidade nessa minha expectativa mas é uma maneira de manifestar meu inconformismo com a situação. Não é uma esperança estática. É apenas a margem para que não nos resignemos diante da perda desta trincheira. 

Claro que a política não se restringe à probidade, mas esse é um elemento essencial para que se possa trabalhá-la em sua grandeza. Precisamos de uma PF forte e republicana para que nos dediquemos finalmente à política... Este episódio deixou este momento ainda mais distante.

Vamos ver o que o Supremo decide hoje, se bem que dificilmente colocariam seu Presidente na situação constrangedora de ter seu ato anulado. O Ministro Joaquim Barbosa, que certamente votaria contra, foi convidado a evento nos Estados Unidos, coincidentemente na mesma semana da votação... No caso do Supremo derrubar a liminar do Super G, só restaria a ele renunciar, isto é, se lhe restasse uma gota de dignidade, o que duvido muito. Aguardemos...