sábado, 20 de dezembro de 2008

Algumas Fotos

Eu estava revirando alguns arquivos antigos e encontrei estas fotos. São do Projeto Cidadão do Mundo, que reuniu quatro fotografos da Paraiba para um ensaio sobre os direitos da criança e do adolescente. Foi vendito um kit com as fotos e os recursos revertidos para o Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua.
A primeira é de Marcos Veloso -1998
 
Estas duas de Ricardo Peixoto - 1996 e 1997

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

COMEÇAR DE NOVO

O texto abaixo é do Blog do Chicão e merece ser lido... http://chicaodoispassos.blogspot.com/

"COMEÇAR DE NOVO"


Eu tinha medo da escuridão

Até que as noites se fizeram longas e sem luz

Eu não resistia ao frio facilmente

Até passar a noite molhado numa laje

Eu tinha medo dos mortos

Até ter que dormir num cemitério

Eu tinha rejeição por quem era de Buenos Aires

Até que me deram abrigo e alimento

Eu tinha aversão a Judeus

Até darem remédios aos meus filhos

Eu adorava exibir a minha nova jaqueta

Até dar ela a um garoto com hipotermia

Eu escolhia cuidadosamente a minha comida

Até que tive fome

Eu desconfiava da pele escura

Até que um braço forte me tirou da água

Eu achava que tinha visto muita coisa

Até ver meu povo perambulando sem rumo pelas ruas

Eu não gostava do cachorro do meu vizinho

Até naquela noite eu o ouvir ganir até se afogar

Eu não lembrava os idosos

Até participar dos resgates

Eu não sabia cozinhar

Até ter na minha frente uma panela com arroz e crianças com fome"


Nota do Chicão:

O sofrimento é uma oportunidade. Algumas pessoas pessoas precisam passar por situações radicais para superarem seus preconceitos.

A gratidão e o serviço são formas de fazermos estas mudanças sem precisarmos do sofrimento.

Alguns usam o sofrimento para reafirmarem seus preconceitos.

Alguns usam seus sofrimentos para nascerem de novo em vida.

A pessoa que escreveu o texto acima renasceu, começou de novo.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Chuva sobre Santa Catarina!

Preciso voltar ao lugar comum e mencionar o sentimento de solidariedade que acorre a população brasileira nestas horas. O estado de Santa Catarina sofreu nestes dias uma catástrofe natural de proporções inusitadas. Até hoje (terça, 22hs) já se tem 85 mortos e os desabrigados, aos milhares nem podem ser estimados, já que a minoria está em abrigos públicos e consegue registrar seu drama. Cidades isoladas, falta de víveres, interrupção da rede de gás e de energia elétrica são algumas das agruras pelas quais estão passando a parcela mais vulnerável da população. Há áreas "nobres" também afetadas, mas estes têm como arcar com os altos custos de sua proteção. Alguns vão para hotéis na sua ou em outra cidade e têm condições de refazer suas vidas em pouco tempo depois do ocorrido. Isto não significa que a tragédia lhes poupe, mas seu fardo é muito mais leve. Mas esta é outra questão.

O que sempre me toca nestas circunstâncias não é tanto o drama das vítimas das enchentes, ou de outras catástrofes equivalentes, quanto as expressões da solidariedade daqueles que os socorrem. Não dos que apenas enviam donativos, se bem que isso seja muito valioso, mas sim daqueles que cumprem o papel insubstituível do trabalho no resgate e abrigamento das vítimas. Tanto os que o fazem profissionalmente, quanto os se oferecem gratuitamente para este serviço. 

O arrivismo, tão comum nestes tempos, abre alas e ressurgem as pessoas que se deixam mover pela fragilidade da vida humana. Não se escondem atrás de justificativas políticas ou religiosas e compreendem a urgência da intervenção organizada, da cooperação e da generosidade humana. Sempre há os que o fazem na perspectiva mesquinha do herói. Uma espécie de vaidade que supera qualquer oferta de apoio. O herói sempre busca o reconhecimento, honrarias ou, o que é pior, empoderamento para fins religiosos, partidários ou quaisquer outros. 

A solidariedade não admite medição, não é negócio. Ela apenas e tão somente admite no outro o ser humano que também sou. Sofre nele e empenha suas forças contra o inimigo comum. A solidariedade não faz pelo "outro", ela faz por nós! E isso é muito mais...

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Me deu saudades do "Ardiloso"

Minha avó era uma pessoa fantástica. Sem dúvida está entre as pessoas mais admiráveis que já conheci. A mãe velha, como a chamávamos, foi uma matriarca doce e forte, que sempre tinha uma frase de efeito pronta para proferir. Os ditados, o conselhos, os discursos eloqüentes eram uma marca de todos os seus diálogos. Criou 15 filhos com toda a lágrima e suor que pôde suportar. 

Não foram tempos fáceis, isto tenho certeza. Apesar de ter não testemunhado a etapa mais dura de sua vida, os depoimentos da época dão conta de uma vida sofrida, que só uma religiosidade fervorosa como a dela, para acalantar. 

Dentre os vários momentos inesquecíveis do convívio com ela, me recordei agora do Ardiloso. Por incrível que pareça esse era o nome de um velho cachorro preto da casa da mãe velha, quando ela ainda morava em São Joaquim. Não tenho idéia de onde tiraram um nome tão pomposo para o animal. Uma família de poucos estudos e linguagem limitada, mas que sacou uma palavra tão pouco usual para designar o companheiro das lidas campeiras. O Ardiloso ajudava a buscar as vacas para a ordenha, brincava com as crianças - que sempre eram muitas, e bem cumpria seu papel de cachorro campeiro, até o final de seus dias. Era um cachorro velho, nem sempre tinha energia para acompanhar o ritmo da criançada.

Ao sentir saudades do Ardiloso, mais que o cão, acende em mim a imagem da criança que fui - e que fomos todos nós, e do aconchego que sentíamos na casa da mãe velha - que falta ela nos faz...

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

A Credibilidade da Polícia Federal Subiu no Telhado

A decepção é um sentimento cruel! Ela escracha o quanto tínhamos uma expectativa superior à realidade. É o que acontece nestes dias com a Polícia Federal, infelizmente. Ontem ela realizou uma operação de busca e apreensão nas residências dos policiais envolvidos com  a Operação Satiagraha supostamente procurando provas de vazamento de informações. O Delegado Protógenes foi um dos alvos da chamada operação G, alusão clara ao Supremo Presidente Gilmar Mendes, a quem a PF assumiu assim estar a serviço. Um Procurador da Justiça Federal manifestou-se contra a busca e apreensão, mas isso não foi suficiente. Com a autorização de um juiz prá lá de suspeito, a devassa foi realizada. 

Fazer uma busca e apreensão não é condenar alguém e, por si, não deve ter tomada como punição. Acontece que este é um caso especial. Todos sabem da celeuma que existe em torno da operação que resultou na prisão e soltura, e prisão e soltura de Daniel Dantas. Hoje está acontecendo o julgamento do famoso Habeas Corpus do Super G, o inimigo implacável dos 3P. 

Ao desencadear esta operação nas vésperas da decisão do Supremo, a PF deu um eloqüente recado aos ministros, a toda a imprensa e a quem esteja atento aos desdobramentos deste episódio. É uma tentativa clara de influenciar na decisão dos ministros ao enfatizar a possibilidade de ter ocorrido vazamentos ilegais, o que reforça os argumentos da defesa de Dantas, de que havia uma perseguição política e não uma investigação policial.

Sabe com quem está falando? Este deveria ser o nome da operação. Se bem que Operação G foi um bom nome porque desnuda de vez quem está mandando, se é que restavam dúvidas a alguém. 

É lamentável! A Polícia Federal vinha dando mostras de ser uma instituição que realmente punha os interesses dos contribuintes acima das articulações de bastidores, ao menos na maioria das situações. Agora, o que havia acumulado de credibilidade nestes últimos anos se foi... Não resistiu ao poderio econômico da quadrilha de Dantas e à vaidade desmedida do Super G. 

Ainda tenho a esperança de outro final para essa história, onde prevaleça o cumprimento das leis e os devedores arquem com as conseqüências de seus atos. Sei que há uma boa dose de ingenuidade nessa minha expectativa mas é uma maneira de manifestar meu inconformismo com a situação. Não é uma esperança estática. É apenas a margem para que não nos resignemos diante da perda desta trincheira. 

Claro que a política não se restringe à probidade, mas esse é um elemento essencial para que se possa trabalhá-la em sua grandeza. Precisamos de uma PF forte e republicana para que nos dediquemos finalmente à política... Este episódio deixou este momento ainda mais distante.

Vamos ver o que o Supremo decide hoje, se bem que dificilmente colocariam seu Presidente na situação constrangedora de ter seu ato anulado. O Ministro Joaquim Barbosa, que certamente votaria contra, foi convidado a evento nos Estados Unidos, coincidentemente na mesma semana da votação... No caso do Supremo derrubar a liminar do Super G, só restaria a ele renunciar, isto é, se lhe restasse uma gota de dignidade, o que duvido muito. Aguardemos...

terça-feira, 28 de outubro de 2008

A Crise Econômica Vista Mais do Alto

Para todos nós que temos pouco domínio do economês, as notícias que chegam todos os dias sobre a crise econômica podem parecer movimentos mais significativos do que realmente o são. É preciso calibrar o olhar para não nos deixarmos levar pelo catastrofismo e, ao mesmo tempo, não nos iludirmos com as melhoras fugazes dos indicadores mais sensíveis. A subida das bolsas em um dia pode ser o prenúncio de uma brusca queda do dia seguinte e vice-versa, por exemplo. 
Quando olhamos um pouco mais de cima, distanciamos o foco, percebemos que são movimentos curtos em torno da linha de esvaziamento de parte da bolha especulativa. É um tanto difícil de entendermos sem nos dedicarmos a alguns gráficos e análises de prazos mais longos. Uma palestra feita na semana passada por um economista do Instituto Mises Brasil (do qual não tenho outras referências), procura explicar este processo. Vale a pena investir um tempo nisso. São quatro partes de cerca de 9 minutos cada:

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Girando no Redemoinho: Até onde vai parar a crise econômica?

A maioria de meus amigos não tem conhecimento para entender a dinâmica da atual crise econômica. Eu também não tenho formação suficiente para compreender a totalidade. Apenas estou me esforçando para acompanhar os movimentos principais e ensaiar alguns raciocínios sobre o assunto, a partir da leitura de análises especializadas. Assim, vale a ressalva, as questões que aponto sobre o assunto, são limitadas à fragilidade do blogueiro. Mesmo assim, se lhe interessa esta forma de ler o mundo, eu faço questão de disponibilizá-la. Fique à vontade.

No último final de semana acompanhamos atentos, um movimento histórico de lideranças de Estados reunidos para articular providências. O sobe e desce das bolsas estão causando vertigem a quem está prestando atenção nisso. Por mais que se façam esforços para entender ou prever movimentos, as explicações estão sendo sempre insuficiente para apontar uma saída. O anúncio de que os Países comprariam ativos dos bancos em dificuldade gerou uma grande euforia no início da semana a ponto de alguns já ensaiassem “o pior já passou”...  A nova queda geral mostrou a fugacidade das medidas tomadas. Não adianta injetar capital. Se não houver alteração na lógica que está regendo o mercado, os resultados serão pífios. O fato de terem mais capital para aplicar, não convence alguém a fazê-lo. É preciso que ele tenha a confiança que aplicando ele terá um resultado melhor do que se segurar seus recursos. Segurar, neste caso, significa comprar títulos da dívida pública, por exemplo, que é um tipo de aplicação “no governo” e não na produção. Os altos juros pagos pelo Poder Público incentivam este tipo de compra. Ocorre que assim a roda não gira... Há queda na produção e no consumo e acontece o que se pode chamar de recessão.

O poder de decisão sobre a aplicação dos capitais é dogma no atual sistema econômico e enquanto isso permanece, a economia fica reduzida a um cassino onde o alvo é maximizar o lucro, sem absolutamente nenhum compromisso com o reflexo disso na realidade... Ainda ontem um fato importante sobre isso: empresários e o governo holandês pediram ao Conselho da Comunidade Comum Européia que flexibilizasse (leia-se reduzisse) os limites à emissão de gases que comprometem a camada de ozônio. Sarkozy, que neste momento acumula a França e a Comunidade Comum, respondeu com uma elegância espantosa que os danos econômicos, mais cedo ou mais tarde serão reparados. Os danos à camada de ozônio são permanentes e por isso não é possível flexibilizar. As metas estabelecidas em acordos da Comunidade Comum exigem pesados investimentos no combate à poluição e aprimoramento dos processos produtivos que ficaram mais difíceis no momento. Se permitisse, o conselho estaria jogando para as gerações futuras a conta pelos erros da presente e da passada. Deixaríamos o mundo ainda mais degradado em troca de mais recursos no presente para lançar na fogueira da especulação.

Estamos todos observando por dentro o rodar de um redemoinho. Não temos forças acumuladas para superar o modelo capitalista. Ele nunca respondeu suficientemente às demandas humanas mas, por muitos anos se conseguiu empurrar o problema mais para frente, como se isso fosse sempre possível. Parecem as tais correntes da fortuna, em que todos continuarão ganhando enquanto encontrarem novos adeptos. Só que um dia isso não dá mais certo... A progressão geométrica não é infinita, neste caso, porque no limite exigiria que o cachorro mordesse o próprio rabo. O espírito competitivo, que é pregado como a essência desse jogo, é seu próprio veneno. Não cabem todos no topo porque neste caso ele deixaria de ser topo.  Muitos tem que perder para alguém ganhar, senão não há competitividade, haveria é partilha. Sendo um jogo, uma competição, ele se caracteriza pela perda da maioria e não pela vitória de uns poucos. Isso é só uma questão de onde se vê o mesmo fenômeno. Se vir do ponto de vista da maioria, que equivale a ver o mundo do ponto de vista popular, competir é promover a derrota da maioria!

Por que diabos assumiríamos o ponto de vista do vencedor? Quem nos autoriza a tamanha arrogância? Ou seria apenas uma aposta alta, de quem espera estar no lado privilegiado da balança, e não é dotado de nenhum escrúpulo?

O mais provável é que haja uma re-acomodação do capital, sem alterar a lógica. Como sabemos, não temos elementos na conjuntura que mostrem forças para uma reversão. Trata-se tão somente de uma crise nesta lógica, mas não convém subestimar sua capacidade de encontrar saídas repassando as perdas para os trabalhadores, como sempre... Pouco podemos fazer, mas convém estarmos atentos. O pior cenário é aquele do qual não tomamos conhecimento. Certamente nossos interesses estarão ainda mais ameaçados.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Qual o tamanho do rombo?

Assistimos nestes últimos dias, atônitos, os autos e baixos do colapso do sistema fianceiro sem que niguém possa afirmar com certeza o tamanho do problema. Medidas são anunciadas mas sempre resta a possibilidade de que sejam insuficientes. Esta charge do The Economist resume esta sensação. Nós pagaremos o pato, isso é certo, mas o até que ponto suportamos o resgate? Salvaremos essa lógica economica que nos levou a isso? 
É claro que minha pretensão é que este momento gerasse a oportunidade de superação dele mas isso não é tão simples... Por hora vamos observar. O final de semana promete...

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Prá aliviar um Poema de Thiago de Melo

Volto armado de amor
para trabalhar cantando
na construção da manhã.
Reparto a minha esperança
e canto a clara certeza
da vida nova que vem.
Um dia, a cordilheira em fogo,
quase calaram para sempre
o meu coração de companheiro.
Mas atravessei o incêndio
e continuo a cantar.
Ganhei sofrendo a certeza
de que o mundo não é só meu.
Mais que viver, o que importa
é trabalhar na mudança
(antes que a vida apodreça)
do que é preciso mudar.
Cada um na sua vez,
cada qual no seu lugar.


Obrigado Fran por ter me enviado o poema.

Domingo é dia de Eleições Municipais

Foi-se o tempo em que isso significava um dia festivo... Na verdade nem sei se alguma vez realmente teve este sentido. Ouvi relatos de algumas pessoas que dão conta disto, mas outras também sempre fizeram o argumento contrário. De qualquer maneira, hoje as eleições têm um sentido bastante diferente do que tinham a vinte anos atrás, que é o período a que posso me referir com certa segurança. 

As ideologias hoje são ainda mais fortes e necessárias do que outrora, os partidos é que estão distantes delas. A disputa pelos melhores projetos fica restrita às realizações administrativas, como se se tratasse de administrar um condomínio. O próprio TSE contribuiu com esse entendimento - a meu ver equivocado - com as propagandas dos 4 anos. Afinal de contas, se considerarmos que se trata de um projeto político sendo direcionado a partir da máquina pública, não serão 4 anos comprometidos, será todo o futuro. Suas piadinhas e brincadeiras reforçaram ainda mais a noção de que se trata de administrar o município. 

O tema da corrupção, apesar da dimensão, não é o mais importante. Esse, aliás, deverá ser um legado da crise da economia estadunidense. Não foi por corrupção que as coisas chegaram a tal ponto. Foram as próprias regras do jogo chamado "neoliberalismo" que possibilitaram a ciranda de ganhos fáceis que faz estourar a bomba na mãos dos outros. Lembra aquela brincadeira de escola onde um colega ficava de costas com um apito pronto para soprar enquanto um objeto era repassado de mão em mão. O divertimento está em que ele passe pela sua mão mas estoure. Se ficasse apenas em um canto da roda, todos iriam reclamar afinal, queremos o "lucro" desta ciranda. Há muitos especuladores que ganharam e continuam ganhando com o giro das engrenagens, mesmo que isso cause o esmagamento de outros. O importante é que o estouro aconteça em outras mãos.

Voltando às eleições, muitos estão escolhendo seus candidatos na base da honestidade. Isso é lamentável. Alguns chegam a afirmar que na política não há isso de honestidade e que seria ingenuidade esperar que haja. Esse é o melhor raciocínio para aqueles que pretendem colocar a máquina pública a serviço de seus interesses particulares. Nivelar por baixo, esse é o serviço que tem prestado o jornalismo histérico, chamado "neocom", que bate na mesa, grita e despeja frases de efeito acusando a falta de escrúpulos de grande parte dos gestores públicos. A corrupção, a meu ver, nem deve ser assunto de tanto debate. Deve ser tratado com sobriedade e fortalecimento dos mecanismos de investigação policial e aplicação da justiça, coisa que tem sido tão difícil nestes tempos de Supremo Presidente.

O que merece debate realmente é a política, no sentido nobre de direcionamento de nossa cidade e, por implicação, nosso estado e país. Podemos falar até da geopolítica, enquanto implicação das decisões locais, neste mundo cada vez mais integrado dialeticamente. 

Mais que saber quem vai construir isto ou aquilo, me importa saber como será definida a chamada "vocação econômica" do município, por exemplo. Vamos continuar insistindo na velha estratégia de atrair grandes empresas para gerar empregos, ou pensar alternativas para que os munícipes criem autonomamente suas rendas? Vamos aprimorar as vias para fazer fluir a infinita frota de veículos ou do transporte coletivo, ou ainda, rever o mapa da mobilidade urbana, propondo que as pessoas não precisem de tantos e tão distantes deslocamentos? Vamos investir em grandes espaços e equipamentos de lazer ou educar as pessoas para que gerenciem melhor seu tempo, a ponto de terem espaço para a fruição, cada qual a seu gosto? Vamos aplicar nossos tão suados recursos em locais para espetáculos - a moda das arenas "multiusos" - transformando cada vez mais os cidadãos em "consumidores" de cultura ou difundir a noção de que todos somos observadores e produtores de cultura no cotidiano e que precisamos apenas aprender a identificar e valorizar nossas obras culturais? 

Alguém poderá argumentar que não se trata de dicotomizar estas alternativas, mas realizá-las simultaneamente. Muitas delas podem e devem ser realizadas ao mesmo tempo mas, e isso é duro, temos sempre que definir prioridades. Isto se dá não apenas pela escassez de recursos mas porque isso define a direção. Mesmo tendo ambas realizadas, qual deve ser considerada publicamente a mais importante? Qual deve orientar nosso desenvolvimento? Não adianta tentar fugir das escolhas pelo caminho fácil do ecletismo e da conciliação. Há definições políticas a serem tomadas e elas não valem 4 anos... 

É fato, por outro lado, que o direcionamento político não se dá exclusivamente pela via das eleições. Qualquer que sejam os eleitos, precisa de uma base de governabilidade, que não é apenas parlamentar. Trata-se do respaldo às suas decisões que passa pelos poderes constituídos (legislativo, executivo e judiciário), mas reside eminentemente nas forças vivas da sociedade, sejam elas ancoradas no poder econômico (empresariado), informacional (meios de comunicação) ou de mobilização social. Quem escolhe seu conselheiro, escolhe seu conselho... Dependendo de onde se apoiar já estará demarcado que interesses estará defendendo.

Quem dera pudéssemos investir nossas energias apenas no fazer político inter-relacional. Temos também que eleger gestores públicos para o executivo e o parlamento e isso pode comprometer completamente a política. Ficamos reféns de disputas pela máquina pública que, muitas vezes, passa longe da política. Este pode não ser o mundo que queremos, mas é o que temos e precisamos lidar com ele como ele é... Assim, nos resta escolher partidos e candidatos! Não é grande coisa, mas é um papel que nos cabe. Vamos a ele... Bom voto a todos.

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

A Crise Financeira Seria o Prelúdio do Esgotamento da Hegemonia Estadunidense?

Acabo de ler uma análise da crise financeira estadunidense que me deixou entusiasmado. Clique aqui para ler. Trata-se de uma entrevista com a brilhante Maria da Conceição Tavares, uma economista luso-brasileira, cuja fama é inferior à sua estatura intelectual. Ela considera que o momento atual pode ser o fim da hegemonia não só dos Estado Unidos da América, como também do Neoliberalismo. Que fique claro, não se trata da superação do capitalismo, mas de sua re-acomodação. Uma nova ordem se anunciaria com o Estado mais presente na economia na forma de monitoramento do sistema financeiro para impedir que novas bolhas estourem deixando os prejuízos nas mãos dos contribuintes. Não podemos chamar isso de uma visão otimista mas de uma mudança, sem dúvida. Como toda crise, esta é uma grande oportunidade. Para quê? Ainda é cedo para afirmar. Pode ser que o novo equilíbrio seja ainda mais perverso. Pode ser também que consigamos instituir mecanismos cidadãos de controle do mercado. Pode ser ainda que a fluidez da economia impeça a estabilização de quaisquer instituições e um novo formato de controle se estabeleça pela aceleração dos ciclos. O campo dos possíveis é pantanoso e as previsões arriscadas. 
O fato a se comemorar é apenas a ruptura de um suposto equilíbrio que sacraliza o mercado e inferioriza os Estados Nações. Ora, se quando o sistema entra em colapso são os cidadãos que arcam com o ônus, é de se supor que mesmo os governantes capitalistas mais ortodoxos exijam medidas de prevenção. Por mais que saibamos que a bolha tem nome e sobrenome, que muitas fortunas foram feitas tendo por base a especulação, pelas atuais regras do jogo estes "felizardos" não arcarão com as conseqüências de seus atos. Já escapuliram da ciranda a tempo, até porque detém análises muito mais apuradas do que as autoridades de Estado. Há procedimentos criminosos no meio disso, sem dúvida, mas a especulação em si é permitida e até incentivada e está na raíz do problema. Mesmo que todos os desvios fossem detectados e corrigidos, isso aliviaria mas não alteraria o estouro. A emissão de títulos não lastreados pode ser considerada gestão temerária ou até fraude, mas a especulação que fez com que estes títulos fossem infinitas vezes sobrevalorizados faz parte do jogo, que agora se demonstrou insustentável. 
Onde isso tudo vai dar? Quem viver verá... Nós, reles mortais descapitalizados e sem poder de interferência nas macrodecisões econômicas apenas podemos assistir os desdobramentos. Menos mal que o Brasil hoje tem âncoras reais que amortecem os impactos da recessão que se inicia. Somos detentores de ativos econômicos que nos permitem manter uma certa normalidade. As reservas cambiais estão em bom nível, temos uma variedade de parceiros comerciais interessante, recursos naturais incomparáveis, a produção agrícola vem batendo recordes consecutivos a anos, não vivemos grandes conflitos com países estrangeiros, acabamos de receber as boas novas do petróleo no pré-sal... O que nos fragiliza é uma institucionalidade submissa aos interesses dos grandes grupos financeiros. Nossos governantes ainda não cumprem a aliança com a cidadania, que povoa seus discursos. Entre aumentar a base consumidora ou a margem de lucros das instiuições bancárias, a segunda tem sido a opção trilhada por muitos anos, tanto é que os bancos locais ou os que por aqui aportam superam em muito a lucratividade obtida em outros lugares. Nem mencionemos a corrupção, que não seria caso de discussão mas de polícia, se esta fosse verdadeiramente colocada para combater os crimes do colarinho branco. Mesmo tratando apenas do posicionamento político, o compromisso com o crescimento econômico ainda é vinculado a manutenção da taxa de lucros e não à conquista de novos patamares de qualidade de vida e reversão da concentração de renda. 
Por hora, vamos levando a vida com um "olho no gato e outro no peixe"... 

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

¿ Porque no te callas Gilmar Mendes ?



O Supremo Presidente Gilmar Mendes - como diz PHA - não perde uma oportunidade de manter-se no centro das atenções soltando suas pérolas. Hoje saiu um laudo pericial das tais maletas da ABIN às quais é atribuída a autoria de supostos grampos telefônicos lisonjeiros do próprio e do senado Demostenes Torres. Trata-se de mais um episódio da grande patifaria destinada a livrar a cara de Daniel Dantas. Além da vergonhosa articulação neste sentido, que por si só justificam a maior indignação, a verborragia de Gilmar Mendes desgasta irreversivelmente a imagem do Poder Judiciário. É fato que a credibilidade deste já não era muito grande, mas esperava-se um pouco de compostura de seus ocupantes. Não que os ministros tenham que se comportar como Sábios da Montanha, que só se manifestariam através de metáforas, mas não é razoável que a cada detalhe de notícia o PIG corra ao Supremo Presidente e este se preste a proferir suas frases feitas para reforçar o Golpe do Estado de Direita, do qual lidera. Alguém deveria submetê-lo ao constrangimento de um cala-boca, ao estilo do Rei Juan Carlo proferido contra Hugo Chaves. 
O ideal é que o "¿Porque no te callas?" viesse de um outro ministro do Supremo, o que resgataria o pouco que resta de credibilidade daquela instituição. Se de lá não sai nada em função do corporativismo ou de uma submissão hierárquica tacanha, que outros ocupem este espaço. Seria muito bom que Lula se insurgisse contra o patético papel de quem foi "chamado às falas" e proferisse o bordão mas tudo indica que ele tem medo de Gilmar Mendes. É um pena!
Se no mundo real está difícil, quem sabe na comédia. Se os comediantes assumissem essa crítica e colocassem sua criatividade nessa tarefa, estariam prestando um grande serviço à nação. Tem que ser algo forte o suficiente para constragê-lo, por mais difícil que isso possa parecer. 
Nós, os simples mortais, também precisamos aumentar nossa grita de indignação. Há pessoas que estão anestesiadas pela novela em que essa história foi convertida e já nem dão ouvidos às novas barbaridades que brotam da latrina de Gilmar Mendes. Me tem enojado cada vez mais aquela cara de buldogue cansado que ele faz diante das câmeras, acompanhada de uma voz taciturna, tentando dar alguma seriedade à nova asneira que vai dizer. 
¿ PORQUE NO TE CALLAS GILMAR MENDES?

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Mais Uma Vez o Supremo Presidente Fazendo das Suas

Ainda estou chocado com o ocorrido nesta segunda-feira, envolvendo o Supremo Presidente Gilmar Mendes e o Presidente Lula. Mesmo que isso tenha um certo tom de ingenuidade, o que me surpreendeu não e o ato em si que faz parte de um processo orquestrado para o desgaste do Governo Federal e consolidação do que Paulo Henrique Amorim chama de Golpe do Estado de Direita, onde o ministro figura como o Mussolini. Meu espanto está em que isto tenha sido possível.
Suponhamos que o próprio Senador Demostenes, que aparece em posição elogiosa junto ao ministro no diálogo telefônico divulgado pela Veja, seja o autor da gravação. O sistema de telefonia do senado permite isso perfeitamente, como em breve divulgará toda a imprensa. Depois disso ele mesmo, para "repercutir" sua influência junto ao supremo fizesse vazar a gravação para a revista. Esta hipótese pode muito bem ter ocorrido já que a revista manterá até o fim o sigilo de sua fonte, que é uma garantia do jornalismo. Isso bastou para Lula engolir a pecha de menino traquino a quem o Supremo Presidente "chama às falas". Que Gilmar Mendes tente isso é razoável, mas que Lula e todas as raposas políticas que o cercam aceitem isso, é impressionante. Novamente citando PHA, "de que Lula tem medo?" Deve ser algo muito grave para que ele se deixe envergar a tal ponto. Há questões muito mais graves na conjuntura e o presidente se deixa manipular para enaltecer Gilmar Mendes - com sua cara de tristeza - e fornece a pauta para todos os meios de comunicação sedentos por escandalos que desgastem o gorveno. Mesmo que o grampo tenha partido da ABIN, o que acho pouco provável, o fato político não foi a ordem para que se investigue o caso ou o afastamento do Paulo Lacerda, que merece a pressunção de inocência. A reunião onde Lula levou, segundo a versão presumida e propagada, uma carraspana do Supremo Presidente é que é a verdadeira crise institucional. Escracha a fragilizade absoluta da instituição presidencial que deveria usar o trocadilho e mandar "às favas quem lhe chamasse às falas". Mas Lula é um fraco para isso, infelizmente!

domingo, 31 de agosto de 2008

Manuel Bandeira - imperdível!!

Manuel Bandeira é um daqueles poetas que muitos têm vergonha de gostar. Um clássico, sem dúvida, mas menos prestigiado do que Drummond ou Mário Quintana na atualidade. Atormentado com a pneumonia que no início do século XX era fatal, Manuel Bandeira fez de sua vida uma poesia, que só terminou aos 82 anos, em 1968. Aqui ele faz seu auto-retrato. A humanidade com a qual se pinta, nos faz procurar um olhar para si com crueza similar. Afinal, quem se descreveria desta forma. Quem exporia suas víceras como forma de se afirmar? Que medo haverá depois de escrachadas suas fragilidades? Restarão as virtudes, qual fênix, que faz brotar de si a nova vitalidade. Vamos ao poema.....


Auto-retrato

Provinciano que nunca soube
Escolher bem uma gravata;
Pernambucano a quem repugna
A faca do pernambucano;

Poeta ruim que na arte da prosa
Envelheceu na infância da arte,
E até mesmo escrevendo crônicas
Ficou cronista de província;
Arquiteto falhado, músico
Falhado (engoliu um dia
Um piano, mas o teclado
Ficou de fora); sem família,
Religião ou filosofia;
Mal tendo a inquietação de espírito
Que vem do sobrenatural,
E em matéria de profissão
Um tísico* profissional.

(Manuel Bandeira. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Aguilar, 1983. p. 395.)

(*) tísico=tuberculoso

A Guernica de Picasso em 3D

Uma das maravilhas da arte é a capacidade de fazer pensar. Picasso conseguiu isso ao pintar a Guernica em 1937, quando a Espanha vivia uma sangrenta guerra civil. Tive a honra de ver pessoalmente esse imenso quadro. É cruel ao demonstrar em suas imagens distorcidas o quanto somos mesquinhos e sádicos. Pobre seres humanos!
Com a aceleração tecnológica é razoável que o quadro não gere hoje o mesmo impacto da época, exceto para quem se disponha a se sensibilizar com a arte, o que tem sido cada vez mais raro. Um grupo de artistas, armados com as ferramentas tecnológicas de hoje, recriou o quadro em 3D, acopanhado de uma música igualmente cruel, e conseguiu para ressucitar sua força aos olhos mais brutos. A dica saiu no Blog do Nassif, mas reproduzo aqui, tentando multiplicar a emoção. Clique aqui

sábado, 9 de agosto de 2008

A Doação Casada e o FIA

Uma das discussões importantes que foi tratada no seminário do Fórum DCA diz respeito às doações incentivadas do imposto de renda para o Fundo da Infância e Adolescência (FIA). Estamos em um momento extremamente importante deste debate, que já dura anos. O Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente - CONANDA, vai regulamentar esta questão e está com uma resolução em debate público até o final de agosto. Clique aqui para ler a íntegra da proposta de resolução.
Infelizmente a posição da maioria dos conselheiros ainda é favorável a esta forma de prostituição dos Conselhos de Direitos. Esta é uma questão delicada e exige uma discussão atenta. No evento realizado em Curitiba nesta semana, o Fórum DCA de Santa Catarina expressou sua posição contrária e os Fóruns do RS e PR foram favoráveis, ainda que pretendam aprimorar a regulamentação.
A história, em síntese é a seguinte: O fundo é responsabilidade dos conselhos de direitos. Estes são compostos paritariamente por representantes do poder público e das entidades vinculadas ao tema, em cada âmbito de governo. Para escolher estas entidades, há uma assembléia do Fórum DCA. Os recursos dos tais fundos são compostos por verbas do próprio poder executivo, de multas por crimes e infrações administrativas cometidas contra os direitos e, ainda, por "doações incentivadas" do imposto de renda. Neste último mora a questão em debate.
Pessoas físicas podem depositar no FIA até 6% de seu imposto devido e pessoas jurídicas até 1% do imposto devido. Vale frisar, do "imposto devido", isto é, a expressão doação não é a mais adequada, melhor seria dizermos, "destinação". A lei, entretanto, usa a expressão doação incentivada.
A decisão sobre a utilização desta verba deve ser do conselho, que deve ter sido democraticamente constituído e é composto por pessoas supostamente capacitadas para a função.
Ocorre que muitas entidades procuram diretamente empresas em busca de doações e estas querem fazê-lo sem que isso saia do seu bolso. Por isso querem que o recurso passe pelo fundo, apenas para gerar a dedução integral do valor, no imposto devido da empresa. Em síntese, querem doar com o dinheiro dos outros, neste caso, dinheiro público!
Nem entremos nos interesses escusos que muitas vezes motivam essas doações. Mesmo que hajam os mais honestos interesses, porque motivos reconheceríamos o direito de um empresário direcionar o uso de recursos que não seriam seus? É o conselho que tem esse papel!
Alegam, os defensores desta modalidade, que essa é a forma de obterem recursos em seus fundos, que do contrário não conseguiriam. Esse argumento, que é verdadeiro, é a prova de que se trata de prostituição! Vários lugares, quando começaram as doaçães casadas passaram a ter umm saldo altíssimo em seus fundos, que antes não tinham. Há entidades que contratam equipes para captar recursos nas empresas, usando o canal dos conselhos através deste sistema.
Há diversos problemas nisso, vou abordar agora apenas alguns deles. Seguindo este modelo, as entidades mais bem estruturadas, com equipes bem montadas e com contatos com as elites econômicas, obterão mais verbas e continuarão crescendo. Aquelas que estão em maior precariedade, nem equipe qualificada tem, mas realizam um trabalho sério nas comunidades, jamais receberão recursos. O conselho avalizaria essa injustiça!
Alguns propuseram, e a resolução do CONANDA contém essa proposta, uma meia sola: o conselho reteria um percentual (20 ou 30%) para fazer o uso que bem entenda e com isso beneficiaria as entidades mais precárias. Essa é uma situação patética! Parece o argumento usado uma vez pelo Paulo Maluf em defesa da pena de morte para o estupro seguido de morte, quando ele disse a pérola: "Quer estuprar, estupra, mas não mata!"
A proposta do CONANDA contém ainda uma sistemática pela qual o conselho elaboraria um documento com as linhas de ação prioritárias e, baseadas nele, as entidades elaborariam projetos. Os projetos que atingissem determinado grau de qualidade e atendessem ao critério do conselho, receberiam a "chancela" para captar recursos na iniciativa privada, aos moldes das leis da cultura. Essa é apenas a sofisticação do mesmo processo. Na cultura já uma lástima, vamos repetir o erro no FIA? Vejam a dificuldade que tem um grupo cultural iniciante para elaborar o projeto e conseguir um selo da lei Roanet e depois mendigar recursos nas empresas. Provavelmente não conseguirão, apesar da qualidade e da importância do que façam. O empresário está com o poder de escolher a alternativa cultural que será beneficiada com recursos que não são seus, são públicos. Depois disso observem a facilidade de qualquer ator global para obter recursos via lei Roanet. Independente da qualidade do trabalho destes, é inegável que dará muito mais visibilidade ao apoiador, que é seu objetivo. Fazer isso com projetos sociais é um crime gravíssimo que não pode ser tolerado!
Não estou me referindo a eventuais desvios que tanto uma como outra forma podem ter. Trata-se do próprio modelo que legitima a interferência da iniciativa privada numa decisão pública a ser financiada com verba pública. Se o empresário quiser apoiar um projeto, ou uma entidade específica, que o faça e isto deve ser bastante valorizado. Ocorre que deve fazê-lo do próprio bolso e não com o recurso público!
É lamentável que o CONANDA e muitos outros conselhos se deixem seduzir pelo aceno da sereia da doação casada e abram mão do poder que legitimamente lhes foi outorgado. Definir linhas de ação e prioridades é só o começo do processo. Os conselhos não podem ter indicações, direcionamentos, carimbos ou quaisquer formas de interferência na gestão do FIA. Devem respeitar os parâmetros legais da probidade, transparência e impessoalidade sem jamais abrir mão de exercer esse poder! Doação casada é prostituição!

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Forum DCA - Encontro Regional Sul

As entidades não governamentais, sintonizadas com as atuais perspectiva da cidadania, se organizam em fóruns. No caso da Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente esta articulação se chama Fórum DCA. Há Fórum no âmbito nacional, nos estados e deveria existir nos município, apesar de que neste nível encontram-se graves fragilidades. Isto não equivale a dizer que nos demais este processo seja simples. Há altos e baixos permanentes, seguindo o ritmo próprio dos fazeres políticos. Como diz uma integrante do Fórum DCA do Rio Grande do Sul, o fórum nunca morre já que é por característica permanente, mas muitas vezes ele dorme por um tempo.
Nestes dias 5, 6 e 7 de agosto estão reunidos em Curitiba um grupo de integrantes dos fóruns dos três estados do sul, em encontro organizado pelo Fórum Nacional. além do intercâmbio das experiências, este encontro pretende aprofundar as discussões sobre os temas do momento.
Daqui a pouco teremos mais um post com o conteúdo destes debates.

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Esquerda e Direita Hoje!

Este é um debate essencial na atualidade, quando vemos tantas vezes essa questão ser desmerecida e mitificada. Para iniciar, sugiro a leitura de um artigo de Luis Carlos Lopes sobre o tema: clique aqui

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Pedagogia na equipe interdisciplinar dos Programas Sociais

É texto corrente defender uma equipe interdisciplinar nos programas sociais. O problema começa quando vamos entrar nisso e definir quem a compõe e como trabalhar interdisciplinarmente...
A psicologia e o serviço social já alcançaram o status de unanimidade para abrirem as tais equipes. Depois disso, as variações são enormes, alguns incluem a educação física, o direito, a arte-educação, a terapia ocupacional e, algumas, a pedagogia. É sobre esta última que gostaria de me estender neste momento.
É difícil de encontrar mas existem - podem acreditar - pedagogos "sociais". Essa situação é comum também a psicologia, onde quase todos os profissionais se formam e se interessam pela atuação em clínica. Na pedagogia isso acontece com a escola. Mesmo quando há a oportunidade para a participação de um profissional da pedagogia na equipe de um programa social, geralmente ele "escolariza" o programa. Na falta de consistência para localizar o objeto da pedagogia, acaba por centrar sua atenção no cotidiano, dedicando-se às práticas e materiais didáticos, como se estivesse em um ambiente escolar. Não que estas questões devam ser desconsideradas mas o papel da pedagogia, ao meu ver, é muito superior. Há um espaço, pouco ocupado, na estruturação e aprimoramento do processo educativo, que exige o conhecimento pedagógico. Os outros saberes participam também, mas são auxiliares neste momento. Cadê os pedagogos sociais para atuarem nisto? Não se trata apenas de executarem um processo pré-montado de PPP (Projeto Político Pegagógico), mas a abertura para a inovação contextualizada do processo específico que cada programa exige.
Este é apenas um aperitivo de uma discussão fundamental que precisa ser feita. Quem quiser participar deste debate, que está só começando, veja no Blog de um parceiro que atua como pedagogo social. Quem conhecer pedagogos de programa, indique o blog para que eles entrem nessa empreitada, que é consolidar o espaço do pedagogo na equipe interdisciplinar dos programas. O Blog do Sidiney é este: http://www.pedagogiadosocial.blogspot.com. Para visitá-lo, clique aqui.

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Caso Daniel Dantas explicado para Crianças

Vejam esta maravilhosa charge animada explicando o caso Daniel Dantas: clique aqui
Infelizmente este caso, até o momento, está entrando para a história como mais uma situação onde a covardia e a cumplicidade foram maiores que a integridade e o respeito às regras vigentes. Sobraram muito poucos fora da quadrilha de Dantas. Figuras ilustres e, até então, tidas como honestas, foram pegas com a mão na cumbuca. Não que se possa dar a situação por encerrada. Novos capítulos hão de vir. Aguardemos com o que nos resta de esperança!

domingo, 13 de julho de 2008

Aniversário do Estatuto da Criança e do Adolescente: 18 anos

Hoje o Estatuto da Criança e do Adolescente (lei 8069/90) completa 18 anos. É tempo, como em todos os anos de fazer um balanço de sua implementação. Os Conselhos de Direitos e tutelares foram implantados em quase todos os lugares, mas estão longe de cumprirem seus papéis. A violência contra a criança e o adolescente tem aumentado e as medidas para enfrentá-la têm surtido poucos resultados. Os adolescentes cada vez mais estão se envolvendo com atos infracionais e as medidas sócio-educativas quase nunca são aplicadas e, quando o são, têm o caráter meramente punitivo sem promover a superação do quadro que levou a tal atitude. Os abrigos cada vez mais estão lotados e em pouquíssimos casos esta medida é justificada. Na maioria esmagadora dos casos trata-se de uma família em situação de miséria o que não pode ensejar o abrigamento senão que o socorro do Estado para que supra as necessidades de seus filhos. As entidades da sociedade civil ainda atuam de maneira fragmentada e quando participam do sistema de gestão participativa, geralmente estão movidas por interesses corporativos. Os órgãos públicos responsáveis pelas políticas setoriais ainda lidam com o tema como “questão do menor” e a delegam quase que exclusivamente ao setor responsável pela assistência social. As políticas públicas ainda são executadas de forma fragmentada e não priorizam as crianças e adolescentes. Na confecção do orçamento público não é feira a clivagem das despesas que atendem aos direitos da criança e do adolescente para verificar a primazia dos recursos, como determina a Constituição e especifica o Estatuto.
No final das contas, depois de analisarmos todos estes elementos parece difícil se ter uma avaliação positiva deste período. É razoável que alguém mais desavisado, diante disto tudo conclua que não valeu a pena tanto esforço pela aprovação e implementação de uma lei. Trata-se de um equívoco que precisa ser desfeito e nestas horas, é ainda mais importante que retomemos as questões fundamentais do tema.
O Estatuto não contém apenas regras para a atenção à criança e ao adolescente mas sim um conjunto de ações e princípios que exigem a revisão completa dos valores e estruturas de nossa sociedade. Isto é tarefa para algumas gerações e não pode ser avaliado no curto prazo. A idéia de co-responsabilidade entre família, sociedade e poder público pela garantia dos direitos contém o gérmen de um novo horizonte de relacionamentos, ainda distante de nossas possibilidades atuais. Exige um sentido de respeito à diversidade, reciprocidade e comprometimento com a coletividade que são o avesso da cultura vigente.
Um bom ponto de partida para uma avaliação é que cada um considere a maneira que concebe, hoje, uma criança ou adolescente em comparação com a maneira que o fazia quando da aprovação do Estatuto. Até que ponto se relaciona com ela como um sujeito, e mais um sujeito de direitos? Isso não é tão simples como pode parecer. Trata-se de reconhecê-lo na relação – guardadas as devidas proporções de linguagem e experiências – enquanto titular legítima de vontades, opiniões e valores. Até que ponto dedica-se com prioridade absoluta à construção da sociedade proteja integralmente a vida humana, encarnada nas futuras gerações? O imperativo de prioridade não é apenas institucional. Para se concretizar precisa abarcar a todos em todas as dimensões. Isto não equivale a dizer que todos tenham que trabalhar diretamente com o tema. A prioridade não é o atendimento à criança e ao adolescente, mas a garantia de seus direitos. Isto significa trabalhar pela construção do ambiente de desenvolvimento integral que lhes é devido, qualquer que seja a atividade profissional que desempenhemos. Até que ponto cobra dos outros, pessoas e instituições, o respeito às regras estatutárias? Não basta cuidar de si, fazer a sua parte. A construção do Estatuto é tarefa complexa e, portanto, fruto de um grande mutirão. Muitas mãos, fazendo juntos. Se o outro não o fizer, de pouco valerá o esforço de um. A cobrança é tão importante quanto o próprio engajamento. Cobrar do outro sem autoritarismo, talvez seja um dos mais árduos desafios de um tempo que idolatra o individualismo.
Esta é apenas uma das dimensões que precisa ser abordada na análise deste período. Certamente as instituições públicas não podem deixar de ser observadas em seus avanços e retrocessos na implementação do Estatuto da Criança e do Adolescente. Trata-se, tão somente, de dimensionar corretamente o desafio para não cair na conclusão fácil de que ainda não saiu do papel. O que está no papel, na forma de uma lei, é apenas um extrato da nova sociedade a ser construída ao longo de algumas gerações. As conquistas até o presente foram menores que as esperadas ou talvez esperássemos mais do que era possível. Encontramos muitos adversários neste caminho e o pior erro que alguém pode cometer é subestimá-los. É hora de renovar o fôlego e retomar a empreitada, sabedores que não alcançaremos a plenitude de sua realização, mas certos também, que a contribuição com este processo pode justificar uma existência e, sem ela, jamais tão ousada meta será atingida.

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Carta Aberta dos Procuradores da República contra o Supremo Presidente Gilmar Mendes

Carta aberta à sociedade brasileira sobre a recente decisão do Presidente do Supremo Tribunal Federal no habeas corpus nº 95.009-4.

Dia de luto para as instituições democráticas brasileiras

1.Os Procuradores da República subscritos vêm manifestar seu pesar com a recente decisão do Presidente do Supremo Tribunal Federal no habeas corpus nº 95.009-4, em que são pacientes Daniel Valente Dantas e Outros. As instituições democráticas brasileiras foram frontalmente atingidas pela decisão liminar que, em tempo recorde, sob o pífio argumento de falta de fundamentação, desconsiderou todo um trabalho criteriosamente tratado nas 175 (cento e setenta e cinco) páginas do decreto de prisão provisória proferido por juiz federal da 1ª instância, no Estado de São Paulo.

2.As instituições democráticas foram frontalmente atingidas pela falsa aparência de normalidade dada ao fato de que decisões proferidas por juízos de 1ª instância possam ser diretamente desconstituídas pelo Presidente do Supremo Tribunal Federal, suprimindo-se a participação do
Tribunal Regional Federal e do Superior Tribunal de Justiça. Definitivamente não há normalidade na flagrante supressão de instâncias do Judiciário brasileiro, sendo, nesse sentido, inédita a absurda decisão proferida pelo Presidente do Supremo Tribunal Federal.

3.Não se deve aceitar com normalidade o fato de que a possível participação em tentativa de suborno de Autoridade Policial não sirva de fundamento para o decreto de prisão provisória. Definitivamente não há normalidade na soltura, em tempo recorde, de investigado que pode
ter atuado decisivamente para corromper e atrapalhar a legítima atuação de órgãos estatais.

4. O Regime Democrático foi frontalmente atingido pela decisão do Presidente do Supremo Tribunal Federal, proferida em tempo recorde, desconstituindo as 175 (cento e setenta e cinco) páginas da decisão que decretou a prisão temporária de conhecidas pessoas da alta sociedade
brasileira, sob o argumento da necessidade de proteção ao mais fraco. Definitivamente não há normalidade em se considerar grandes banqueiros investigados por servirem de mandantes para a corrupção de servidores públicos o lado mais fraco da sociedade.

5.As decisões judiciais, em um Estado Democrático de Direito, devem ser cumpridas, como o foi a malsinada decisão do Presidente do Supremo Tribunal Federal. Contudo, os Procuradores da República subscritos não podem permanecer silentes frente à descarada afronta às instituições
democráticas brasileiras, sob pena de assim também contribuírem para a falsa aparência de normalidade que se pretende instaurar.

Brasil, 11 de julho de 2008.

Peixes Graúdos não!

Apesar de Dantas permanecer encarcerado, Pitta, Nahas e outros já ganharam o mundo pelas graças do Supremo Presidente...

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Tomara que não entrevistem o DELEGADO QUEIROZ

De todo o episódio ocorrido hoje (10/07) no caso Satiagraha, destacou-se a atuação do DELEGADO QUEIROZ, cujo nome deve ser sempre grafado em Maiúsculas, como homenagem, segundo um colaborador do Blog do Nassif. Foi um lance de mestre. Antes mesmo de deixar o prédio da Polícia Federal de São Paulo, Daniel Dantas foi intimado a comparecer no mesmo dia para prestar depoimento no mesmo local. Daí não poderia voltar ao Rio. Esse era o tempo necessário para que o pedido de prisão preventiva fosse apreciado, agora sim, prá valer. Segundo o Paulo Henrique Amorim, foi um drible da vaca, ou uma meia-lua, na gíria futebolística. Segundo este raciocínio, o DELGADO QUEIROZ já havia previsto tudo, que haveria um habeas corpus e que a primeira prisão teria sido apenas para queimar essa alternativa da defesa. Agora tem que esperar mais e o caso não fica nas mãos do Supremo Presidente (Gilmar Mendes, Presidente do Supremo Tribunal Federal). Agora terão que seguir o caminho dos mortais, pedir socorro nas instâncias inferiores, aguardar os prazos e, quando negada, recorrer nas instâncias superiores. Isso garante um pouco mais de tempo de reclusão o que é o fim, para quem se considerava acima destes empecilhos do Estado de Direito. Não que isso seja lá muita coisa, mas tamanha a penúria que vale a comemorar até escanteio, só para continuar na metáfora com o futebol.
Pois o DELEGADO QUEIROZ ainda não apareceu em nenhuma imagem de televisão ou mesmo foto nas publicações de internet. Nenhum jornalista – e olha que nisto são vorazes – conseguiu uma mísera imagem, quiçá uma entrevista com a figura. Pois torço para não a tenham. Se isso acontecer ele será pintado de herói e devorado pelos meios de comunicação de massa. Se ele permitir será solenemente entrevistado no Fantástico ou no Domingo Espetacular, convidado para Tirar o Chapéu no Raul Gil ou até vítima de uma pegadinha do CQC. Prefiro que ele não se deixe levar pelos 15 minutos de fama. Melhor ficarmos com a impressão de que ele é imune a essas vaidades.

terça-feira, 8 de julho de 2008

Operação Satiagraha: será apenas mais uma alegria efêmera?

Hoje (terça-feira, 8/7) tivemos mais uma daquelas sensações de alívio ao ver o resultado da operação Satiagraha da Polícia Federal: a prisão de figuras ilustres por corrupção, formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e outras coisistas más. Daniel Dantas, talvez o maior mafioso vivo do Brasil, é um daqueles que ainda hoje será exibido com um troféu diante das câmeras. É uma pena que muitas vezes essa vitória seja tão fugaz.
O nome da operação, aliás, merece referência especial. Não via até o momento nenhum jornalista oferecer a tradução, mas encontrei uma que me parece bastante interessante. Seria a atitude pregada por Gandhi, como forma legítima de resistir à opressão pela sustentação da verdade e do amor. Seria segundo essa tradução, a resistência pacífica, silenciosa, mas firme e convicta. Mais uma vez a equipe que cria os nomes das operações dando um banho de criatividade.
O que chama a atenção sempre que isso ocorre, e tem ocorrido com freqüência, é que a PF prende e a justiça solta. Isto, aliás, já se tornou quase um bordão diante dessas operações. Dá para pressentir o eco dos comentaristas acusando de inúteis as mesmas, por naturalizar essa máxima.
A Polícia Federal tem em seus quadros pessoas do mais alto gabarito para o trabalho. Apesar disto, advogados regados a ouro, descobrem sempre alguma brecha na investigação para obterem a soltura de seus protegidos. É claro que aí também entram em cena muitos procedimentos escusos, que interferem na aplicação da justiça. Mas será razoável supor que todos os casos em que isso aconteceu, tratou-se de corrupção no processo judicial? Haveria também casos de pura imperícia dos procedimentos investigatórios que facilitaram a defesa, tipo acusação precipitada, sem as respectivas provas, métodos ilegais para obtenção de provas ou equivalentes?
O que me intriga e me deixa indignado, é a naturalização desta situação reforçando o pessimismo comodista de que não adianta nada, sem oferecer quaisquer alternativas. Eu espero neste caso, como já o fiz em outras ocasiões, é que o trabalho tenha sido tão bem feito que dificulte ao máximo a atuação das falsas defensorias. Estas, na grande maioria dos casos estão mais interessadas em encontrar as brechas do que provar a inocência dos acusados, até porque sabem não ser o caso.
Além disto, por óbvio, espero que os mecanismos de vigilância e controle, do próprio Judiciário, do Ministério Público e a própria imprensa consigam coibir as tentativas de macular os procedimentos, que certamente ocorrerão.
Por fim, espero que um dia possamos não apenas comemorar a prisão pela PF de mais uma quadrilha, mas a condenação, com a devolução aos cofres públicos dos valores suprimidos e a adequada penalização dos responsáveis. Pode parecer ingenuidade, mas a vida seria mais fácil se pudéssemos nos preocupar com os problemas mais importantes do que a corrupção.

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Inflação como profecia auto-realizável

Longe de mim querer abordar aqui a completude da inflação, mas gostaria de apontar um aspecto relacionado a ela que tem me incomodado. Trata-se da apologia à volta da inflação. Lembro-me da época em que os preços aumentavam diariamente e não tenho nenhuma saudade desta situação, como certamente ninguém a de ter. Ou melhor, só tem aqueles que lucraram demais com isso, isto é, o próprio sistema financeiro. Mas uma coisa que ficava bastante marcado então era a justificativa para os aumentos, que vinha a ser a própria inflação. Os preços aumentavam "por causa" da inflação, sendo que, obviamente, o aumento é a própria inflação. Tratava-se nestes casos, de um jogo de palavras usado para justificar o aumento sem precisar maiores detalhamentos, sem mesmo que houvesse quaisquer aumentos de custos, sem que houvessem quaisquer alterações no mercado. A inflação fornecia de antemão a oportunidade para a mera alteração na margem de ganhos de muitas empresas. Isso não foi uma raridade, ao contrário, esse jogo foi a principal alavanca da inflação. Com o aumento de um preço, mesmo que sem fundamentos seja no mercado, seja na produção, os demais preços eram mojorados para suprir a diferença e acompanhar o índice resultante.
Agora estamos vendo o aumento dos preços de vários produtos, embora que as cifras nem de longe lembrem os patamares atingidos noutros tempos. A grande imprensa, que Paulo Henrique Amorim apelidou de PiG, interessada em desgastar o atual governo, usa e abusa da expressão "inflação" como uma acusação de fracasso da administração federal. Esse discurso oferece novamente a justificativa para muitos empresários reajustarem seus preços, mesmo que nenhum elemento objetivo o exija. Trata-se de uma oportunidade que o "bom" empresário não pode perder. Se aumentar e acusar a inflação como motivadora, se isentará de quaisquer críticas, como se, aliás, isso fizesse alguma difereça. Assim fica fácil!
Quanto mais se propaga a idéia do retorno da inflação, mais se produz inflação. Esse tostines está sendo a salvação da lavoura de uma oposição sem bandeiras.
Isso não significa, por outro lado, que a atual política econômica esteja em bons rumos e que a oposição é que estaria estragando tudo. Há problemas sérios e que sua superação não é sequer vislumbrada pelas medidas em andamento. O que não podemos é confundir a situação que já ruim com sua piora via promoção da idéia de inflação, que se está observando.

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Mais Dicas de Livros online

Essa dica é sugestão da Sandra Sangaletti. São centenas de livros de domínio público disponibilizados e tem um vídeo imperdível do Paulo Freire. Clique aqui e acesse.

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Livros de Paulo Freire para Baixar

Essa dica é de Gustavo Cherubine e foi publicada no Blog do Nassif, mas não pude de conter e a reproduzo aqui. É um blog com livros de Paulo Freire, para ler e baixar.
O Blog chama-se Para Além do Hip Hop e lá tem o link para baixar um arquivo com os seguintes livros:

  • Pedagogia da Esperança
  • Pedagogia da Indignacao
  • Pedagogia diálogo conflito
  • Pedagogia do Oprimido
  • Política e Educação
  • Por Uma Pedagogia da Pergunta
  • Professora sim, Tia nao
  • A importancia do ato de ler
  • Ação cultural para a liberdade
  • Cartas a Guinea Bissau
  • Conscientização
  • Educacao e Mudanca
  • Extensao ou Comunicacao
  • Medo e ousadia
  • Pedagogia da Autonomia
O endereço do blog é: clique aqui

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Apoio ao Fazendo Media

O jornal Fazendo Média e o site correspondente são importantes ferramentas de resistência jornalística à hegemonia dos meios de comunicação conservadores. Como toda iniciativa de resistência tem muita dificuldade para sobreviver. Eles lançaram uma campanha de assinaturas que é barato e pode fazer toda a diferença para que se mantenham vivos. É apenas R$ 45,00 reais e o jornal pode ser recebido pelo correio em todo o Brasil. Se puder contribua. Clique aqui para ver o site e ter mais informações sobre a assintatura.

A Pretensiosidade de um Projeto de Sociedade

É cada vez mais raro encontrar alguém que mantenha a pretensão de um projeto de sociedade. Alguém que ultrapasse as questões do dia-a-dia e invista seu tempo e sua energia em pensar alternativas maiores, para o longo prazo. A ideologia dominante pretende que cada um cuide de si, busque se viabilizar da melhor forma possível e se abandone em alguma modalidade de entretenimento para relaxar de vez em quando.

A tecnologização do cotidiano contribui muito para isso. São tantos detalhes novos o tempo todo, coisas a aprender, ferramentas fascinantes sendo criadas... Isso de pensar grande parece inútil, ou mesmo não temos tempo para isso. Se procurarmos nos últimos tempos, honestamente, quanto tempo e quando nos dedicamos a estas questões? Ou nos deixamos levar pela correnteza do cotidiano e consideramos essa uma questão ultrapassada, como querem alguns?

Simplesmente chamar essa situação de alienação é cair no lugar comum que não faz avançar a reflexão. O movimento de autocrítica exige muito mais que uma chamada de atenção. É preciso resgatar o sentido dessa pretensiosidade. Por muitos anos os chavões substituíram essa reflexão. Uma expressão resolvia esta questão e se poderia voltar aos desafios da concretude, que por si já nos absorvem por inteiro. Com o esfacelamento do “muro de Berlim” muitos caíram no golpe do fim das ideologias e acreditam até hoje que não há mais espaço no mundo para um projeto de sociedade. Aceitam implicitamente que tudo está resolvido, doravante restam apenas desafios pessoais, ou no máximo o desafio da sustentabilidade ambiental, quer dizer, se conseguirmos reduzir a agressão à natureza, o resto já está bom. Ou ainda, bom não está, mas não vemos outras possibilidades.

Ousar desejar mais, seja para si, seja para a humanidade não é uma obrigação, é apenas uma possibilidade. Isto é preciso ficar bem marcado para que não se troque de alienação simplesmente. Trata-se de uma perspectiva política e que faz a maior diferença. Alguém que toma para si os grandes desafios do nosso tempo e procura encontrar saídas, mesmo que não as encontre, é uma pessoa diferente. Alguém que veja as mazelas do mundo como um problema seu, que lhe diz respeito, e não apenas acusa ou reclama da situação...

Não estou pretendendo, também que tenha um modelo de sociedade a propor ou que se filie a um grupo específico, que defenda uma ideologia. A questão é chamar para si a pretensão da totalização. Não apenas um aspecto, um lugar, mas o mundo. Este é um desafio grande que faz da pessoa grande. É claro, por outro lado, que não baste pensar um projeto de sociedade, suas atitudes carecem de coerência com o que defender. O desafio não é dizer um compromisso com a humanidade, mas ser esse compromisso!