sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Domingo é dia de Eleições Municipais

Foi-se o tempo em que isso significava um dia festivo... Na verdade nem sei se alguma vez realmente teve este sentido. Ouvi relatos de algumas pessoas que dão conta disto, mas outras também sempre fizeram o argumento contrário. De qualquer maneira, hoje as eleições têm um sentido bastante diferente do que tinham a vinte anos atrás, que é o período a que posso me referir com certa segurança. 

As ideologias hoje são ainda mais fortes e necessárias do que outrora, os partidos é que estão distantes delas. A disputa pelos melhores projetos fica restrita às realizações administrativas, como se se tratasse de administrar um condomínio. O próprio TSE contribuiu com esse entendimento - a meu ver equivocado - com as propagandas dos 4 anos. Afinal de contas, se considerarmos que se trata de um projeto político sendo direcionado a partir da máquina pública, não serão 4 anos comprometidos, será todo o futuro. Suas piadinhas e brincadeiras reforçaram ainda mais a noção de que se trata de administrar o município. 

O tema da corrupção, apesar da dimensão, não é o mais importante. Esse, aliás, deverá ser um legado da crise da economia estadunidense. Não foi por corrupção que as coisas chegaram a tal ponto. Foram as próprias regras do jogo chamado "neoliberalismo" que possibilitaram a ciranda de ganhos fáceis que faz estourar a bomba na mãos dos outros. Lembra aquela brincadeira de escola onde um colega ficava de costas com um apito pronto para soprar enquanto um objeto era repassado de mão em mão. O divertimento está em que ele passe pela sua mão mas estoure. Se ficasse apenas em um canto da roda, todos iriam reclamar afinal, queremos o "lucro" desta ciranda. Há muitos especuladores que ganharam e continuam ganhando com o giro das engrenagens, mesmo que isso cause o esmagamento de outros. O importante é que o estouro aconteça em outras mãos.

Voltando às eleições, muitos estão escolhendo seus candidatos na base da honestidade. Isso é lamentável. Alguns chegam a afirmar que na política não há isso de honestidade e que seria ingenuidade esperar que haja. Esse é o melhor raciocínio para aqueles que pretendem colocar a máquina pública a serviço de seus interesses particulares. Nivelar por baixo, esse é o serviço que tem prestado o jornalismo histérico, chamado "neocom", que bate na mesa, grita e despeja frases de efeito acusando a falta de escrúpulos de grande parte dos gestores públicos. A corrupção, a meu ver, nem deve ser assunto de tanto debate. Deve ser tratado com sobriedade e fortalecimento dos mecanismos de investigação policial e aplicação da justiça, coisa que tem sido tão difícil nestes tempos de Supremo Presidente.

O que merece debate realmente é a política, no sentido nobre de direcionamento de nossa cidade e, por implicação, nosso estado e país. Podemos falar até da geopolítica, enquanto implicação das decisões locais, neste mundo cada vez mais integrado dialeticamente. 

Mais que saber quem vai construir isto ou aquilo, me importa saber como será definida a chamada "vocação econômica" do município, por exemplo. Vamos continuar insistindo na velha estratégia de atrair grandes empresas para gerar empregos, ou pensar alternativas para que os munícipes criem autonomamente suas rendas? Vamos aprimorar as vias para fazer fluir a infinita frota de veículos ou do transporte coletivo, ou ainda, rever o mapa da mobilidade urbana, propondo que as pessoas não precisem de tantos e tão distantes deslocamentos? Vamos investir em grandes espaços e equipamentos de lazer ou educar as pessoas para que gerenciem melhor seu tempo, a ponto de terem espaço para a fruição, cada qual a seu gosto? Vamos aplicar nossos tão suados recursos em locais para espetáculos - a moda das arenas "multiusos" - transformando cada vez mais os cidadãos em "consumidores" de cultura ou difundir a noção de que todos somos observadores e produtores de cultura no cotidiano e que precisamos apenas aprender a identificar e valorizar nossas obras culturais? 

Alguém poderá argumentar que não se trata de dicotomizar estas alternativas, mas realizá-las simultaneamente. Muitas delas podem e devem ser realizadas ao mesmo tempo mas, e isso é duro, temos sempre que definir prioridades. Isto se dá não apenas pela escassez de recursos mas porque isso define a direção. Mesmo tendo ambas realizadas, qual deve ser considerada publicamente a mais importante? Qual deve orientar nosso desenvolvimento? Não adianta tentar fugir das escolhas pelo caminho fácil do ecletismo e da conciliação. Há definições políticas a serem tomadas e elas não valem 4 anos... 

É fato, por outro lado, que o direcionamento político não se dá exclusivamente pela via das eleições. Qualquer que sejam os eleitos, precisa de uma base de governabilidade, que não é apenas parlamentar. Trata-se do respaldo às suas decisões que passa pelos poderes constituídos (legislativo, executivo e judiciário), mas reside eminentemente nas forças vivas da sociedade, sejam elas ancoradas no poder econômico (empresariado), informacional (meios de comunicação) ou de mobilização social. Quem escolhe seu conselheiro, escolhe seu conselho... Dependendo de onde se apoiar já estará demarcado que interesses estará defendendo.

Quem dera pudéssemos investir nossas energias apenas no fazer político inter-relacional. Temos também que eleger gestores públicos para o executivo e o parlamento e isso pode comprometer completamente a política. Ficamos reféns de disputas pela máquina pública que, muitas vezes, passa longe da política. Este pode não ser o mundo que queremos, mas é o que temos e precisamos lidar com ele como ele é... Assim, nos resta escolher partidos e candidatos! Não é grande coisa, mas é um papel que nos cabe. Vamos a ele... Bom voto a todos.

2 comentários:

Sidiney disse...

Ai.. Ai..

Li seu texto com vista a minha realidade, ou seja São Chique City, e agora josé?

Ontem fui surpreendido, por uma notícia que aqui a arrecadação de ICMS foi recorde e que ultrapassou todos outros municípios catarinenses, saindo de 25 posição para a 1. Que coisa não.

ah.. tô de férias... rss

Anônimo disse...

Como conciliar a educação, saneamento e cultura com a lógica eleitoreia? Do jeito que as coisas vão, só ganha eleição o político que investe pesado em auto-promoção. Como quebrar essa ciranda, coordenada por interesses nebulosos? Quem pagaria por isso?
Converso com pessoas "honestas" que, em período de eleições, deixam a consciência em casa para poder executar seu trabalho e ganhar o pão, senão perdem seus empregos. Também conheço políticos "quase" totalmente honestos que, quando chegam ao poder, ou se coorompem ou não se reelegem.
É um caminho longo e difícil, mas espero que cheguemos lá (sem sangue).
Abrakos!
Gegê Malvadeza