terça-feira, 28 de outubro de 2008

A Crise Econômica Vista Mais do Alto

Para todos nós que temos pouco domínio do economês, as notícias que chegam todos os dias sobre a crise econômica podem parecer movimentos mais significativos do que realmente o são. É preciso calibrar o olhar para não nos deixarmos levar pelo catastrofismo e, ao mesmo tempo, não nos iludirmos com as melhoras fugazes dos indicadores mais sensíveis. A subida das bolsas em um dia pode ser o prenúncio de uma brusca queda do dia seguinte e vice-versa, por exemplo. 
Quando olhamos um pouco mais de cima, distanciamos o foco, percebemos que são movimentos curtos em torno da linha de esvaziamento de parte da bolha especulativa. É um tanto difícil de entendermos sem nos dedicarmos a alguns gráficos e análises de prazos mais longos. Uma palestra feita na semana passada por um economista do Instituto Mises Brasil (do qual não tenho outras referências), procura explicar este processo. Vale a pena investir um tempo nisso. São quatro partes de cerca de 9 minutos cada:

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Girando no Redemoinho: Até onde vai parar a crise econômica?

A maioria de meus amigos não tem conhecimento para entender a dinâmica da atual crise econômica. Eu também não tenho formação suficiente para compreender a totalidade. Apenas estou me esforçando para acompanhar os movimentos principais e ensaiar alguns raciocínios sobre o assunto, a partir da leitura de análises especializadas. Assim, vale a ressalva, as questões que aponto sobre o assunto, são limitadas à fragilidade do blogueiro. Mesmo assim, se lhe interessa esta forma de ler o mundo, eu faço questão de disponibilizá-la. Fique à vontade.

No último final de semana acompanhamos atentos, um movimento histórico de lideranças de Estados reunidos para articular providências. O sobe e desce das bolsas estão causando vertigem a quem está prestando atenção nisso. Por mais que se façam esforços para entender ou prever movimentos, as explicações estão sendo sempre insuficiente para apontar uma saída. O anúncio de que os Países comprariam ativos dos bancos em dificuldade gerou uma grande euforia no início da semana a ponto de alguns já ensaiassem “o pior já passou”...  A nova queda geral mostrou a fugacidade das medidas tomadas. Não adianta injetar capital. Se não houver alteração na lógica que está regendo o mercado, os resultados serão pífios. O fato de terem mais capital para aplicar, não convence alguém a fazê-lo. É preciso que ele tenha a confiança que aplicando ele terá um resultado melhor do que se segurar seus recursos. Segurar, neste caso, significa comprar títulos da dívida pública, por exemplo, que é um tipo de aplicação “no governo” e não na produção. Os altos juros pagos pelo Poder Público incentivam este tipo de compra. Ocorre que assim a roda não gira... Há queda na produção e no consumo e acontece o que se pode chamar de recessão.

O poder de decisão sobre a aplicação dos capitais é dogma no atual sistema econômico e enquanto isso permanece, a economia fica reduzida a um cassino onde o alvo é maximizar o lucro, sem absolutamente nenhum compromisso com o reflexo disso na realidade... Ainda ontem um fato importante sobre isso: empresários e o governo holandês pediram ao Conselho da Comunidade Comum Européia que flexibilizasse (leia-se reduzisse) os limites à emissão de gases que comprometem a camada de ozônio. Sarkozy, que neste momento acumula a França e a Comunidade Comum, respondeu com uma elegância espantosa que os danos econômicos, mais cedo ou mais tarde serão reparados. Os danos à camada de ozônio são permanentes e por isso não é possível flexibilizar. As metas estabelecidas em acordos da Comunidade Comum exigem pesados investimentos no combate à poluição e aprimoramento dos processos produtivos que ficaram mais difíceis no momento. Se permitisse, o conselho estaria jogando para as gerações futuras a conta pelos erros da presente e da passada. Deixaríamos o mundo ainda mais degradado em troca de mais recursos no presente para lançar na fogueira da especulação.

Estamos todos observando por dentro o rodar de um redemoinho. Não temos forças acumuladas para superar o modelo capitalista. Ele nunca respondeu suficientemente às demandas humanas mas, por muitos anos se conseguiu empurrar o problema mais para frente, como se isso fosse sempre possível. Parecem as tais correntes da fortuna, em que todos continuarão ganhando enquanto encontrarem novos adeptos. Só que um dia isso não dá mais certo... A progressão geométrica não é infinita, neste caso, porque no limite exigiria que o cachorro mordesse o próprio rabo. O espírito competitivo, que é pregado como a essência desse jogo, é seu próprio veneno. Não cabem todos no topo porque neste caso ele deixaria de ser topo.  Muitos tem que perder para alguém ganhar, senão não há competitividade, haveria é partilha. Sendo um jogo, uma competição, ele se caracteriza pela perda da maioria e não pela vitória de uns poucos. Isso é só uma questão de onde se vê o mesmo fenômeno. Se vir do ponto de vista da maioria, que equivale a ver o mundo do ponto de vista popular, competir é promover a derrota da maioria!

Por que diabos assumiríamos o ponto de vista do vencedor? Quem nos autoriza a tamanha arrogância? Ou seria apenas uma aposta alta, de quem espera estar no lado privilegiado da balança, e não é dotado de nenhum escrúpulo?

O mais provável é que haja uma re-acomodação do capital, sem alterar a lógica. Como sabemos, não temos elementos na conjuntura que mostrem forças para uma reversão. Trata-se tão somente de uma crise nesta lógica, mas não convém subestimar sua capacidade de encontrar saídas repassando as perdas para os trabalhadores, como sempre... Pouco podemos fazer, mas convém estarmos atentos. O pior cenário é aquele do qual não tomamos conhecimento. Certamente nossos interesses estarão ainda mais ameaçados.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Qual o tamanho do rombo?

Assistimos nestes últimos dias, atônitos, os autos e baixos do colapso do sistema fianceiro sem que niguém possa afirmar com certeza o tamanho do problema. Medidas são anunciadas mas sempre resta a possibilidade de que sejam insuficientes. Esta charge do The Economist resume esta sensação. Nós pagaremos o pato, isso é certo, mas o até que ponto suportamos o resgate? Salvaremos essa lógica economica que nos levou a isso? 
É claro que minha pretensão é que este momento gerasse a oportunidade de superação dele mas isso não é tão simples... Por hora vamos observar. O final de semana promete...

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Prá aliviar um Poema de Thiago de Melo

Volto armado de amor
para trabalhar cantando
na construção da manhã.
Reparto a minha esperança
e canto a clara certeza
da vida nova que vem.
Um dia, a cordilheira em fogo,
quase calaram para sempre
o meu coração de companheiro.
Mas atravessei o incêndio
e continuo a cantar.
Ganhei sofrendo a certeza
de que o mundo não é só meu.
Mais que viver, o que importa
é trabalhar na mudança
(antes que a vida apodreça)
do que é preciso mudar.
Cada um na sua vez,
cada qual no seu lugar.


Obrigado Fran por ter me enviado o poema.

Domingo é dia de Eleições Municipais

Foi-se o tempo em que isso significava um dia festivo... Na verdade nem sei se alguma vez realmente teve este sentido. Ouvi relatos de algumas pessoas que dão conta disto, mas outras também sempre fizeram o argumento contrário. De qualquer maneira, hoje as eleições têm um sentido bastante diferente do que tinham a vinte anos atrás, que é o período a que posso me referir com certa segurança. 

As ideologias hoje são ainda mais fortes e necessárias do que outrora, os partidos é que estão distantes delas. A disputa pelos melhores projetos fica restrita às realizações administrativas, como se se tratasse de administrar um condomínio. O próprio TSE contribuiu com esse entendimento - a meu ver equivocado - com as propagandas dos 4 anos. Afinal de contas, se considerarmos que se trata de um projeto político sendo direcionado a partir da máquina pública, não serão 4 anos comprometidos, será todo o futuro. Suas piadinhas e brincadeiras reforçaram ainda mais a noção de que se trata de administrar o município. 

O tema da corrupção, apesar da dimensão, não é o mais importante. Esse, aliás, deverá ser um legado da crise da economia estadunidense. Não foi por corrupção que as coisas chegaram a tal ponto. Foram as próprias regras do jogo chamado "neoliberalismo" que possibilitaram a ciranda de ganhos fáceis que faz estourar a bomba na mãos dos outros. Lembra aquela brincadeira de escola onde um colega ficava de costas com um apito pronto para soprar enquanto um objeto era repassado de mão em mão. O divertimento está em que ele passe pela sua mão mas estoure. Se ficasse apenas em um canto da roda, todos iriam reclamar afinal, queremos o "lucro" desta ciranda. Há muitos especuladores que ganharam e continuam ganhando com o giro das engrenagens, mesmo que isso cause o esmagamento de outros. O importante é que o estouro aconteça em outras mãos.

Voltando às eleições, muitos estão escolhendo seus candidatos na base da honestidade. Isso é lamentável. Alguns chegam a afirmar que na política não há isso de honestidade e que seria ingenuidade esperar que haja. Esse é o melhor raciocínio para aqueles que pretendem colocar a máquina pública a serviço de seus interesses particulares. Nivelar por baixo, esse é o serviço que tem prestado o jornalismo histérico, chamado "neocom", que bate na mesa, grita e despeja frases de efeito acusando a falta de escrúpulos de grande parte dos gestores públicos. A corrupção, a meu ver, nem deve ser assunto de tanto debate. Deve ser tratado com sobriedade e fortalecimento dos mecanismos de investigação policial e aplicação da justiça, coisa que tem sido tão difícil nestes tempos de Supremo Presidente.

O que merece debate realmente é a política, no sentido nobre de direcionamento de nossa cidade e, por implicação, nosso estado e país. Podemos falar até da geopolítica, enquanto implicação das decisões locais, neste mundo cada vez mais integrado dialeticamente. 

Mais que saber quem vai construir isto ou aquilo, me importa saber como será definida a chamada "vocação econômica" do município, por exemplo. Vamos continuar insistindo na velha estratégia de atrair grandes empresas para gerar empregos, ou pensar alternativas para que os munícipes criem autonomamente suas rendas? Vamos aprimorar as vias para fazer fluir a infinita frota de veículos ou do transporte coletivo, ou ainda, rever o mapa da mobilidade urbana, propondo que as pessoas não precisem de tantos e tão distantes deslocamentos? Vamos investir em grandes espaços e equipamentos de lazer ou educar as pessoas para que gerenciem melhor seu tempo, a ponto de terem espaço para a fruição, cada qual a seu gosto? Vamos aplicar nossos tão suados recursos em locais para espetáculos - a moda das arenas "multiusos" - transformando cada vez mais os cidadãos em "consumidores" de cultura ou difundir a noção de que todos somos observadores e produtores de cultura no cotidiano e que precisamos apenas aprender a identificar e valorizar nossas obras culturais? 

Alguém poderá argumentar que não se trata de dicotomizar estas alternativas, mas realizá-las simultaneamente. Muitas delas podem e devem ser realizadas ao mesmo tempo mas, e isso é duro, temos sempre que definir prioridades. Isto se dá não apenas pela escassez de recursos mas porque isso define a direção. Mesmo tendo ambas realizadas, qual deve ser considerada publicamente a mais importante? Qual deve orientar nosso desenvolvimento? Não adianta tentar fugir das escolhas pelo caminho fácil do ecletismo e da conciliação. Há definições políticas a serem tomadas e elas não valem 4 anos... 

É fato, por outro lado, que o direcionamento político não se dá exclusivamente pela via das eleições. Qualquer que sejam os eleitos, precisa de uma base de governabilidade, que não é apenas parlamentar. Trata-se do respaldo às suas decisões que passa pelos poderes constituídos (legislativo, executivo e judiciário), mas reside eminentemente nas forças vivas da sociedade, sejam elas ancoradas no poder econômico (empresariado), informacional (meios de comunicação) ou de mobilização social. Quem escolhe seu conselheiro, escolhe seu conselho... Dependendo de onde se apoiar já estará demarcado que interesses estará defendendo.

Quem dera pudéssemos investir nossas energias apenas no fazer político inter-relacional. Temos também que eleger gestores públicos para o executivo e o parlamento e isso pode comprometer completamente a política. Ficamos reféns de disputas pela máquina pública que, muitas vezes, passa longe da política. Este pode não ser o mundo que queremos, mas é o que temos e precisamos lidar com ele como ele é... Assim, nos resta escolher partidos e candidatos! Não é grande coisa, mas é um papel que nos cabe. Vamos a ele... Bom voto a todos.