quinta-feira, 12 de junho de 2008

A Pretensiosidade de um Projeto de Sociedade

É cada vez mais raro encontrar alguém que mantenha a pretensão de um projeto de sociedade. Alguém que ultrapasse as questões do dia-a-dia e invista seu tempo e sua energia em pensar alternativas maiores, para o longo prazo. A ideologia dominante pretende que cada um cuide de si, busque se viabilizar da melhor forma possível e se abandone em alguma modalidade de entretenimento para relaxar de vez em quando.

A tecnologização do cotidiano contribui muito para isso. São tantos detalhes novos o tempo todo, coisas a aprender, ferramentas fascinantes sendo criadas... Isso de pensar grande parece inútil, ou mesmo não temos tempo para isso. Se procurarmos nos últimos tempos, honestamente, quanto tempo e quando nos dedicamos a estas questões? Ou nos deixamos levar pela correnteza do cotidiano e consideramos essa uma questão ultrapassada, como querem alguns?

Simplesmente chamar essa situação de alienação é cair no lugar comum que não faz avançar a reflexão. O movimento de autocrítica exige muito mais que uma chamada de atenção. É preciso resgatar o sentido dessa pretensiosidade. Por muitos anos os chavões substituíram essa reflexão. Uma expressão resolvia esta questão e se poderia voltar aos desafios da concretude, que por si já nos absorvem por inteiro. Com o esfacelamento do “muro de Berlim” muitos caíram no golpe do fim das ideologias e acreditam até hoje que não há mais espaço no mundo para um projeto de sociedade. Aceitam implicitamente que tudo está resolvido, doravante restam apenas desafios pessoais, ou no máximo o desafio da sustentabilidade ambiental, quer dizer, se conseguirmos reduzir a agressão à natureza, o resto já está bom. Ou ainda, bom não está, mas não vemos outras possibilidades.

Ousar desejar mais, seja para si, seja para a humanidade não é uma obrigação, é apenas uma possibilidade. Isto é preciso ficar bem marcado para que não se troque de alienação simplesmente. Trata-se de uma perspectiva política e que faz a maior diferença. Alguém que toma para si os grandes desafios do nosso tempo e procura encontrar saídas, mesmo que não as encontre, é uma pessoa diferente. Alguém que veja as mazelas do mundo como um problema seu, que lhe diz respeito, e não apenas acusa ou reclama da situação...

Não estou pretendendo, também que tenha um modelo de sociedade a propor ou que se filie a um grupo específico, que defenda uma ideologia. A questão é chamar para si a pretensão da totalização. Não apenas um aspecto, um lugar, mas o mundo. Este é um desafio grande que faz da pessoa grande. É claro, por outro lado, que não baste pensar um projeto de sociedade, suas atitudes carecem de coerência com o que defender. O desafio não é dizer um compromisso com a humanidade, mas ser esse compromisso!

Um comentário:

Anônimo disse...

Durante algum tempo eu vivi a tentativa de uma mudança no modo de pensar e viver em sociedade.Mas viver daquele jeito me exigia negar parte desse mundo que aí está. Mas havia quem era partidário da minha ideologia vivia muito bem nesse Sistema.Não conseguia compreender, achava por demais contraditório.Então eu me vi sozinha. Pensava ter sido usada como massa de manobra de uma parte desse sistema que entende que, se alguns se alienarem nessa tentativa utópica de sociedade igualitária, não irão requerer para si os benefícios dessa sociedade de que são dignos apenas os que se inserem, e, na disputa com iguais vencem.Perdi o sentido da vida. Fazer o caminho de volta foi doloroso, mas necessário para não viver sozinha...porque não é possível criar um mundo que só eu compreenda e todos os outros estejam errados...é pretensioso e arrogante demais, achar que eu estou certa e o resto do mundo errado.Aceitar os limites impostos pelo momento histórico, é, selar um acordo de paz com a minha própria história.Eu não desisti, apenas não aceito idéias propostas por quem jamais as teve como pratica(Os pensadores).E não adoto práticas que mascarem minha condição.Não concordo com o blogueiro no que se refere a sermos absorvidos pelas novidades tecnológicas.Pois podemos, se quisermos , viver muito bem sem elas.Mas quantas vezes,quando estamos em grupo sejam de duas ou mais pessoas usamos esses recursos para evitar um contato mais íntimo com o outro ser?Quantas vezes os mp3, DVDs, maquinas digitais, celular com fotinho, frescurinhas nos carros são motivo de conversas entre nós?Será isso uma invasão tecnológica na nossa vida, ou será que somos tão superficiais nas nossas relações que não sabemos mais como falar com nossos queridos?Será que a idéia que estamos criando sobre nós não é por demais distante da realidade e por isso incompreendidos pelos nossos companheiros de jornada?Temos a escolha de avançar nessa perspectiva ou de reconhecer que o passo que queremos dar não é ainda um sentimento coletivo.Não há sentido em crescer sozinho.Vivenciar um projeto de sociedade não é uma tarefa solitária.É preciso, sim, dizer também pois o saber se constrói em comunhão com nossos semelhantes.