quarta-feira, 4 de junho de 2008

A Fragilidade da Vida Humana

A vulnerabilidade do ser humano pode ser verificada de várias formas. Desde o nascimento, somos uns dos animais que depende de seus pais por mais tempo. Mesmo depois disto, a sofisticação de nossa vida social nos leva a um longo processo de aprendizagem, essencial a sobrevivência. Não me refiro aqui às coisas aprendidas na escola, que seriam um capítulo a parte. Trata-se tão somente das regras de convivência, explicitas e implícitas, e da linguagem falada, com seus mil tons e detalhes. Por dominar estes elementos – processo este que nunca termina – alguns de nós se julga capaz de enfrentar o mundo com suas armadilhas e perigos.

Ocorre que somos extremamente frágeis! Esse fato tem que ser sempre levado em conta. É um antídoto para a prepotência e a arrogância diante das forças da natureza e mesmo diante dos outros. Nosso corpo padece diante de um minúsculo vírus quanto mais diante de um acidente, mesmo que pareçam banais. Além disto, e como se não bastasse, nossa segurança psicológica pode ser abalada com tamanha facilidade que chega a ser espantoso que mantenhamos o rumo. A emoção, que é uma desestabilização psicológica, mas não pode ser considerada uma ameaça por si só. Estar emocionado é estar abalado, sem dúvida, mas este nível de desordem não costuma afetar nossa estrutura de ser. Se isto ocorrer, há que se procurar auxílio técnico profissional porque esta situação torna-se insustentável e pode se contornada. A emoção, por outro lado, pode ser uma perturbação benéfica a nosso ser. Uma homenagem ou prêmio podem ser momentos de extrema emoção e isso não pode ser considerado danoso a pessoa.

A morte, entretanto, costuma nos arrastar a um precipício do qual, muitos de nós, têm dificuldade de escalar seu retorno. Admitir nossa fragilidade, física e psicológica é um bom ponto de partida para manter nosso projeto de vida. Chegará nossa vez e esse é um processo natural e irreversível. Isso não muda em nada a dor pela perda de pessoas queridas nem mesmo nos faz querer apressar nosso fim, mas faz com que nos coloquemos em nosso lugar. Seres frágeis cuja maior força e nossa capacidade de nos aliarmos pela solidariedade para construir um mundo melhor para nós mesmos e para os que virão.

PS: Esta pequena reflexão me ocorre em função do falecimento de Neri Elias de Moraes, meu pai. O homem que me ensinou a chorar de emoção.

5 comentários:

Anônimo disse...

Pois é meu amigo, nos últimos dias lembrei do comentário que um primo (psicólogo) fez quando meu pai faleceu: "o velório e o luto são fases importantes para que os familiares, principalmente os mais próximos, acostumem-se com a idéia da perda".
Mas não precisava ser tão difícil né?
Apesar de ser meio torto nesse aspecto, nessas horas eu me conforto em pensar no lado espiritual da coisa. É impossível que a vida se resuma a esse corpo frágil que carrega a nossa essência (ou alma, mente, espírito...). Tudo o que acumulamos, as experiências, os amores, amigos, familiares e aprendizado, não podem se perder na natureza - Game Over! Deve haver uma nova fase, algo maior.
Acredito que, um dia, ainda nos encontraremos com nossos "velhos" para, em outro nível, dar boas risadas e comentar as bobagens que cometemos no dia-a-dia.
Supere o seu luto. Força!

Geraldo

catita disse...

SINTO IMENSAMENTE A VIAGEM FEITA POR SEU QUERIDO PAI JÁ QUE TIVE O GRANDE PROVILEGIO DE CONHECER TÃO QUERIDA PESSOA MESMO QUE POR UM BREVE PERIODO, MAS SINTA-SE CONFORTADO POR TER SIDO SEU FILHO TÃO AMADO.
UM GRANDE E FORTE BEIJO FORÇA IMAGINE QUE ELE ESTA FAZENDO UM LONGO E BELO VOO.

CATIA

Anônimo disse...
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Sandra Inês Sangaletti disse...

As emoções , os sentimentos são o que nos tocam diretamente,são então o que sabemos ( etmologicamente falando) do mundo.Em situação onde a dor é muita,podemos se quisermos iludir nossos sentidos,com experiências multiplas e com isso agirmos livrimente pela razão.Mas quando se trata da separação, pela morte do corpo físico, assim como o conhecemos,não queremos nos consolar,nem esquecer.Queremos sentir a dor pois é assim que afirmamos a vida. Negar as emoções são como negar a maneira pela qual o mundo nos toca.As vezes pela dor, as vezes pelo prazer...um precisa do outro, assim sabemos que estamos vivos.

Unknown disse...

Não nos humanizamos por inteiro até o dia em que, sem retorno, nos despedimos de parte de nos mesmos. Nunca teremos chorado aquele choro; e aquele choro nunca mais nos será indiferente. É um lamento universal que passaremos a reconhecer e sentir. Um código de dor, de uma dor especial. A dimensão do que somos está ali, naquele choro. Encontramos a morte e, nela, nos encontramos.

Valmir