terça-feira, 8 de julho de 2008

Operação Satiagraha: será apenas mais uma alegria efêmera?

Hoje (terça-feira, 8/7) tivemos mais uma daquelas sensações de alívio ao ver o resultado da operação Satiagraha da Polícia Federal: a prisão de figuras ilustres por corrupção, formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e outras coisistas más. Daniel Dantas, talvez o maior mafioso vivo do Brasil, é um daqueles que ainda hoje será exibido com um troféu diante das câmeras. É uma pena que muitas vezes essa vitória seja tão fugaz.
O nome da operação, aliás, merece referência especial. Não via até o momento nenhum jornalista oferecer a tradução, mas encontrei uma que me parece bastante interessante. Seria a atitude pregada por Gandhi, como forma legítima de resistir à opressão pela sustentação da verdade e do amor. Seria segundo essa tradução, a resistência pacífica, silenciosa, mas firme e convicta. Mais uma vez a equipe que cria os nomes das operações dando um banho de criatividade.
O que chama a atenção sempre que isso ocorre, e tem ocorrido com freqüência, é que a PF prende e a justiça solta. Isto, aliás, já se tornou quase um bordão diante dessas operações. Dá para pressentir o eco dos comentaristas acusando de inúteis as mesmas, por naturalizar essa máxima.
A Polícia Federal tem em seus quadros pessoas do mais alto gabarito para o trabalho. Apesar disto, advogados regados a ouro, descobrem sempre alguma brecha na investigação para obterem a soltura de seus protegidos. É claro que aí também entram em cena muitos procedimentos escusos, que interferem na aplicação da justiça. Mas será razoável supor que todos os casos em que isso aconteceu, tratou-se de corrupção no processo judicial? Haveria também casos de pura imperícia dos procedimentos investigatórios que facilitaram a defesa, tipo acusação precipitada, sem as respectivas provas, métodos ilegais para obtenção de provas ou equivalentes?
O que me intriga e me deixa indignado, é a naturalização desta situação reforçando o pessimismo comodista de que não adianta nada, sem oferecer quaisquer alternativas. Eu espero neste caso, como já o fiz em outras ocasiões, é que o trabalho tenha sido tão bem feito que dificulte ao máximo a atuação das falsas defensorias. Estas, na grande maioria dos casos estão mais interessadas em encontrar as brechas do que provar a inocência dos acusados, até porque sabem não ser o caso.
Além disto, por óbvio, espero que os mecanismos de vigilância e controle, do próprio Judiciário, do Ministério Público e a própria imprensa consigam coibir as tentativas de macular os procedimentos, que certamente ocorrerão.
Por fim, espero que um dia possamos não apenas comemorar a prisão pela PF de mais uma quadrilha, mas a condenação, com a devolução aos cofres públicos dos valores suprimidos e a adequada penalização dos responsáveis. Pode parecer ingenuidade, mas a vida seria mais fácil se pudéssemos nos preocupar com os problemas mais importantes do que a corrupção.

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