terça-feira, 18 de novembro de 2008

Me deu saudades do "Ardiloso"

Minha avó era uma pessoa fantástica. Sem dúvida está entre as pessoas mais admiráveis que já conheci. A mãe velha, como a chamávamos, foi uma matriarca doce e forte, que sempre tinha uma frase de efeito pronta para proferir. Os ditados, o conselhos, os discursos eloqüentes eram uma marca de todos os seus diálogos. Criou 15 filhos com toda a lágrima e suor que pôde suportar. 

Não foram tempos fáceis, isto tenho certeza. Apesar de ter não testemunhado a etapa mais dura de sua vida, os depoimentos da época dão conta de uma vida sofrida, que só uma religiosidade fervorosa como a dela, para acalantar. 

Dentre os vários momentos inesquecíveis do convívio com ela, me recordei agora do Ardiloso. Por incrível que pareça esse era o nome de um velho cachorro preto da casa da mãe velha, quando ela ainda morava em São Joaquim. Não tenho idéia de onde tiraram um nome tão pomposo para o animal. Uma família de poucos estudos e linguagem limitada, mas que sacou uma palavra tão pouco usual para designar o companheiro das lidas campeiras. O Ardiloso ajudava a buscar as vacas para a ordenha, brincava com as crianças - que sempre eram muitas, e bem cumpria seu papel de cachorro campeiro, até o final de seus dias. Era um cachorro velho, nem sempre tinha energia para acompanhar o ritmo da criançada.

Ao sentir saudades do Ardiloso, mais que o cão, acende em mim a imagem da criança que fui - e que fomos todos nós, e do aconchego que sentíamos na casa da mãe velha - que falta ela nos faz...

4 comentários:

Cabecinha disse...

As avós, sempre deixam aquele que de saudades...

Célio Vanderlei Moraes disse...

"Ardiloso"
Meu Caro! O Ardiloso ou sagaz astuto, dotado de perspicácia, não poderia ser melhor adjetivo para aquele que costuma ser o "guardião" de bens ou pessoas. Assim, aquela família de "palavras curtas", sabia, há muito tempo, o caminho para as soluções. Só ardiloso não basta, precisa ter um pouco de "molecagem". Sabendo disto, nossos queridos ascendentes, teriam, o cão antecessor ao Ardiloso, chamado "Moleque". Como sabemos, tudo o que é boa prática hoje, luz de conhecimento, foi o empirismo ontem. Em resumo, quando queremos buscar entendimento para certas metodologias e boas práticas acadêmicas,temos que recorrer às práticas empíricas utilizadas pelos sábios do passado, que para nosso orgulho, tivemos alguns em nossa vida, que deixaram um legado de sabedoria, capaz de nos fazer enfrentar a vida "ardilosamente", sem medo de ser feliz. Parabéns pelo blog! MGC.
PS: Estou postando esse comentário a pedido de Manoel Gonçalves Costa

Sandra Inês Sangaletti disse...

Essa história é muito semelhante a história da minha infância la no Costão do Frade (Bom Retiro- SC).Tinhamos o Tivo, nosso cachorro.Um dia, sem sabermos o porque, nosso vizinho levou o Tivo e o matou.Ficamos com raiva e perguntamos ao nosso pai porquê ele havia deixado o Tivo ser levado para a morte.Nosso pai nos olhou, disfarçou a lágrima e disse qualquer coisa para encerrar o assunto...ele só pedira a um amigo que fizesse o que ele mesmo não tinha coragem de fazer: Sacrificar o cachorro predileto por ter contraído raiva.Mas isso eu só vim saber muito mais tarde, quando li em "Ratos e Homens" de John Steinbeck uma passagem semelhante.

Tânia Santini disse...

Cé,
Sinto saudades de minha vó dos seus carinhos e suas palavras que amenizavam qualquer dor.As mulheres de nossa família que deixaram saudades eram donas de uma sabedoria que ia além de bancos escolares.
Bjs de sua prima!!!