quarta-feira, 28 de maio de 2008

A Árvore está na folha: A Dialética do Geral e do Específico

Relacionar o geral com o específico e vice-versa parece não ser tarefa das mais difíceis, mas é impressionante como tem sido raro encontrar alguém que o faça adequadamente. A lógica formal (causa-efeito) domesticou o pensamento dominante de tal maneira que procurar a origem dos fatos em um dos pólos é o lugar comum nas argumentações, seja de senso comum, imprensa ou mesmo de textos especializados na análise da realidade social. Afinal, a corrupção no nível federal ocorre porque os indivíduos abriram mão dos escrúpulos no cotidiano ou o arrivismo dominante se deve à falta de exemplos de probidade? Quem espera que esta pergunta seja respondida já descontextualizou completamente o problema e, por isso mesmo, não conseguirá construir soluções para este problema. Alguns o fazem por equívoco, dado que nossa educação é limitada e limitante. Não ensina a pensar com autonomia, mas apenas a adotar formulas de raciocínio pronto. Outros, e aí está a gravidade do tema, o fazem para ocultar premissas que lhes interessam. Ao isolar o problema, seja no indivíduo que desrespeita as regras de convívio, seja no chamado “político” desonesto, ficam inocentados os demais elementos participantes deste processo. Destacam-se, neste sentido, os meios de comunicação e o mundo empresarial, onde o segredo que é a alma do negócio poucas vezes preserva a ética e o respeito à pessoa.

Peguemos a noção de “preço”, tal qual aplicada nas leis de mercado. Um coisa custa quanto encontrarmos alguém disposto a pagar, esta é apenas uma outra forma de expressar a lei da oferta e da procura. Para além dos materiais e trabalhos empregados na sua produção, seu valor será estabelecido a partir da escassez do mercado. Neste campo ocorre um choque de interesses, onde o comprador sempre quer pagar o menor preço e o vendedor quer obter a maior fatia de lucros. É impressionante como a dissimulação e a mentira são utilizadas neste momento. Alguns se referem a isto como uma arte, eu prefiro manter a reticência quanto à ética envolvida no processo. Lançar um valor fictício, acima do razoável e acima mesmo de sua expectativa de venda é apenas a estratégia inicial das negociações. Ocorre que muitas vezes o suposto comprador não barganha, por ignorância, insegurança, desconhecimento do mercado, ou seja, lá o que for. Nesta situação, comumente não é considerado falta de escrúpulos a sonegação do desconto previsto para o caso do comprador solicitar, afinal, negócios “são assim”. Mas, quando olhamos mais de perto a situação, não está aí a semente da máxima do levar vantagem em tudo, certo? Não estou me referindo ao lucro, que é legitimado pelo atual sistema de produção. Tampouco me refiro à idéia de ganância, um dos pecados capitais. A questão que pretendo levantar é a base ética das relações humanas, encontrada no comércio, na política, no amor, no esporte, na comunicação, enfim, em todo âmbito onde pessoas se encontrem.

A dialética exige um raciocínio bem mais apurado. Abre mão do fácil para alcançar a fidelidade aos fatos. Não que complicar seja alguma vantagem, mas por outro lado, o simplismo é uma falsificação que nos dificultará logo adiante. Ao invés de procurar a ou as causas dos problemas, compreender seus múltiplos componentes sempre procurando ampliar ao máximo a reflexão. Isolar variáveis é apenas um instrumento de análise, mas exige que voltemos à situação inicial onde as coisas não estavam isoladas. Ao contrário, todas se implicavam, se contraditavam, superavam... Lembrar sempre que os fatos se remetem uns aos outros, dialeticamente!

O geral e o específico são dimensões de um mesmo fenômeno e sua compreensão exigirá, portanto o movimento correspondente de um a outro e de volta ao primeiro. Um contém o outro e, ao mesmo tempo, está contido nele. A árvore, portanto, contém a folha e está contida nela.

Um comentário:

Anônimo disse...

Eu responderia a essa provocação com uma frase bem conhecida: "Navegar é Preciso, viver não é preciso".
Quando iniciamos um movimento, temos um objetivo, um horizonte.Temos uma idéia de como fazer para atingir nossos obejetivos mas não grantias de que tudo se dê como queremos ou planejamos.Ha muitas variáveis e não conhecemos tudo.Na relação com o outro ha sempre sujeitos,que têm da vida a visão que aprenderam com suas vivências, informações sobre coias que não conhecem de fato, e, o desconhecido;o desconhecido no outro e em nós mesmos pois somos tranformados nessa relação...
Meu visu dessa real não pode ser explicado de forma muito simples pois pode comprometer o sentido daquilo que quero dizer. Acredito que deva ser o amor a base nas relações humanas, no comércio, na política,no esporte, na comunicação etc...O bem maior que procuro é um bem individual também, pois o bem da coletividade é meu bem, já que um não é sem o outro.E sobre o amor,se é o amor romântico oque mensiona no texto, é sempre contraditório, mas recuso a idéia de esquecê-lo se não for por ele tocado o meu amado.Assim segue-se a vida...imprecisa como não pode deixar de ser.

Sandra